Não sei o que já contei, o que é novidade, o que já é sabido de todos vocês. Mas neste post, contarei uma história rápida (ahan, sei, vocês conhecem meu entendimento de "rápida").
Começamos com um flashback.
A Mi toma um remédio que, no Brasil, é manipulado. Nada sério, people, nada sério. Pagávamos R$ 65,00 pelo pote, suficiente para 3 meses. Trouxemos um novo para Barcelona. Então, obviamente, 3 meses depois, acabou. Havíamos deixado uma receita com a mãe da Mi, que, coincidentemente, é minha sogrinha querida. A Jô. Pessoal, todo mundo fala "Oi Jô"! Obrigado. Continuando.
A Jô, com a receita em mãos, mandou fazer um novo pote. Ela ficou com o produto manipulado, e a farmácia reteve a receita. Praxe. Foram gastos os R$ 65,00, e mais R$ 86,00 para enviar o pacote pra gente. E, novamente, 3 meses (quase) se passaram, e o remédio estava acabando. E agora, o que fazer? Para um novo pote, teríamos que pagar uma consulta particular com o médico da Mi, que fica em São Paulo, para que ele emitisse nova receita, para que todos os demais gastos fossem feitos, e etc, e etc. Então, contabilizando, grana para ir a São Paulo, mais a grana da consulta, mais a grana da manipulação e mais a grana do envio. Totalizando, daria em torno de R$ putamerda,cacete. Aproximadamente.
Voltando para os dias atuais.
Em janeiro, eu e a Mi conseguimos entrar com o pedido de nossa tarjeta sanitária. É um cartão que permite o uso do sistema público de saúde de Barcelona - que, diga-se de passagem, é excelente -, além de conseguir descontos em medicamentos receitados. Um mês e quatro dias depois, recebemos a tal tarjeta. Dia dois de março, a Mi passou no centro de saúde, aqui, do lado de casa. Marcaram a primeira consulta dela para o dia seguinte, três de março, quinta-feira, ou, como dizemos aqui, jueves (castelhano), ou ainda, dijous (catalão). Vale.
Dia seguinte, lá estava a Mi, alegre e saltitante, pronta para sua primeira consulta em solo internacional. Na verdade, ela foi atendida por uma enfermeira, que mediu sua pressão e anotou informações básicas. Procedimento padrão. Foram marcados um exame de sangue (uma semana depois) e uma consulta, agora sim, com nossa médica (uma semana após o exame de sangue). Seguimos, então, o protocolo. Uma semana se passou, e lá foi a Mi tirar sangue. Eu apareci de surpresa, para segurar a bolsa dela, que é gigante e pesada, e para segurá-la, no caso de haver algum desmaio ou coisa parecida, por conta do jejum. Outra semana se passou, e chegou o dia marcado para a consulta. Isso foi ontem.
Para interligar as duas histórias contadas até agora. A esperança da Mi era que ela conseguisse com nossa nova médica uma receita para o remédio que ela toma. Assim, economizaríamos bastante. Isto é, caso o remédio daqui não fosse tão caro quanto o remédio daí. Teríamos que esperar, e foram duas semanas cheias de ansiedade, acreditem. Voltando.
Ontem, a Mi foi à médica. Eu fiquei, trabalhando. Poucos minutos depois, ela retornou. Cheguei a pensar que ela, por algum motivo, não tivesse sido atendida. Ledo engano. Ela foi atendida, e muito bem atendida. E trouxe consigo uma receita, linda, novinha, para podermos comprar o tal remédio. Felizes, saímos em direção à uma farmácia na Princesa, pois tínhamos na carteira apenas uma nota de dez euros. Portanto, fui junto, no caso de precisar usar o cartão de débito (sim, tenho uma conta aqui!) ou crédito. A Mi entrou, eu fiquei lá fora, fumando (eu sei, eu sei, eu sei.), e entrei em seguida. Ela estava boquiaberta.
A história é que a Mi mostrou a receita e apresentou sua tarjeta sanitária. A farmacêutica identificou o remédio, passou o código de barras na máquina e registrou a retirada. Destacou, também, uma parte da embalagem, que serve como controle interno, pois a receita permite que compremos apenas uma caixa do tal remédio por mês. A Mi, então, faz a pergunta (diálogo traduzido):
- Quanto é?
- ...86...
A Mi franziu a testa, coçou o cocurutu, inclinou a cabeça. Por um minuto, ela pensou "fodeu", mas depois:
- Perdão... Quanto?
- 86 centavos de Euro.
Sim, meus caros companheiros de leitura. Oitenta e seis centavos de Euro. Numericamente, 0,86€. Eu entrei logo depois deste diálogo ter ocorrido. A Mi estava ainda boquiaberta, quando ela me contou tudo. Obviamente, eu ri. A Mi riu. A farmacêutica riu! Perguntamos quanto seria o remédio caso não tivéssemos a tal tarjeta. Seriam oito Euros. Puxa. Puxa. Abri minha carteira, e vi que tinha apenas uma moeda de um Euro. A Mi, idem. Resultado. Saímos da farmácia com um remédio para o mês inteiro, gastamos um Euro e ainda voltamos com quinze centavos de troco.
Ficamos tão surpresos que ligamos para nossas mães para contar o acontecido. Nos sentimos tão afortunados, tão aliviados e, novamente, tão seguros.
Bom, essa foi a história de hoje. Dá para ver que estamos bem, não? Se não, aqui vai a confirmação. Estamos bem, e amamos vocês e nos amamos.
Acreditem, estamos nos tornando melhores pessoas. Estamos crescendo, como pessoas, como adultos e como um casal. Isso é ótimo.
Besitos remediados
Nando (e Mi, vendo a receita de hoje da Ana Maria Braga. Não falei que estamos crescendo? Mi chefe de cozinha, quem diria!)