Dia 10 de abril de 2013. O dia foi especialmente bom. Tudo havia dado certo no meu trabalho. Um dia antes, inclusive, eu estava tremendamente gripado, e tive que sair mais cedo do serviço para me cuidar. Cheguei em casa podre, moído mesmo, e a sorte é que a Mi estava aqui para me receber. Ela me preparou o almoço, e me deu remédios - 2 ou 3 - e dormi até não poder mais. Depois acordei, já de noite, e comi mais um pouco, tomei mais remédios, tomei banho (pronto, já o fiz (piada interna)) e dormi de novo, até o fatídico dia. E este dia, novo dia, foi especialmente bom.
No trabalho comecei o dia preparando minha sala para receber minha nova assistente/roomate, importada (in)diretamente da Romênia. Me arrastava pelo chão em busca de fios e cabos, porque já me sentia melhor e bem depois da pausa do outro dia, e preparava e instalava os novos computadores. Trabalhei tanto que saí 20 minutos depois das 18h, o que é absolutamente raro. Mas o dia em si foi muito bom, cheio de risadas e projetos terminados. Eu estava bem, e com a cabeça bem cheia também.
Como estamos com muitos projetos, e agora preciso passar alguns deles para frente, precisei pensar redobrado. E não é fácil fazer isso. Quer dizer, ficar ocupado e tentar fazer outra pessoa ficar ocupada, uma vez que eu tenho que dar as instruções para que a outra pessoa se ocupe, o que me impede de ocupar-me com o que realmente é importante. Enfim, eu estava bem, mas com mil coisas passando pela cabeça. E foi assim que andei até a estação de trem.
Cheguei lá às 18h38, e faltavam alguns minutos ainda para o próximo trem. Por isso fui caminhando lentamente, pensando e planejando, enquanto terminava meu cigarro e ligava para a Mi. Conversamos pouco. Eu estava sem foco. Desliguei e mirei o horizonte. Sabe quando você perde o olhar no horizonte? O meu eu perdi no da minha esquerda. Chegou o trem na plataforma 1. O que indica que o meu trem, da 2, chegará em alguns instantes.
Preparo minha mochila, alinhando-a às minhas costas, e, com as mão nos bolsos, me posiciono perto de onde sei que parará a porta do trem. É a primeira porta do primeiro vagão, porque assim não tenho que andar muito para sair da estação final quando lá chegar. Estamos lá, eu e uma moça, quando avisto o trem chegando. É o trem de dois andares que vem vindo, um trem mais antigo que os outros da mesma linha, mais trem e menos metrô. E ele chega, e vem vagarozamente até onde estou, e a porta está justamente onde eu queria. Eu, cavalheiro como sempre, fico atrás da moça, e assim que ouvimos o barulho da pressão que destrava o sistema de portas, ela pressiona o botão verde, e a pesada porta abre ao meio. Ela sobe. Eu não.
Estes trens mais antigos possuem um degrau fixo, que, por motivos óbvios, precisam manter certa distância da plataforma. Este degrau é dividido ao meio, por motivos nada óbvios, deixando um vão pronto para alguém desavisado ou, no meu caso, desfocado, ferrar alguém. Quando fui subir no trem, sem perceber coloquei meu pé neste vão. E eu caí.
Eu caí no vão entre o trem e a plataforma. Fiquei pendurado, com o corpo em formato de um Y. Veja este Y. Agora imagine que o tracinho no canto superior esquerdo seja meu corpo, o tracinho no canto superior direito é meu braço direito, e o tracinho reto, pra baixo, é minha perna esquerda. Este era eu, dependurado na lateral do trem, com uma perna caída no vão entre o vagão e a plataforma, e segurando firmemente com a mão direita a barra de segurança na lateral da porta, enquanto meu quadril estava na altura do chão do vagão e minha mão esquerda segurava firmemente a alça da minha mochila, colada ao meu peito.
Tudo isso durou cerca de 1 segundo, talvez menos. A moça, que havia subido, ouvindo o barulho, aquele "tump" oco, virou-se e foi me acudir. Eu disse que estava bem, e tudo, mas o susto fez jorrar adrenalina nas minhas entranhas, e não percebi que havia acontecido o pior. De qualquer forma, agradeci e fui checar meu joelho. A esta altura já estava dentro do trem, pois eu havia conseguido me puxar para o vagão, incrivelmente sem muita dificuldade. A remota possibilidade de um cena deixa a gente com poderes sobrenaturais.
Continuando, comecei a checar meu joelho esquerdo. O "tump" oco que fez com que a moça se virasse para ver o que havia acontecido foi o barulho do meu joelho esquerdo batendo e arrastando contra a lataria do trem. Ele - o joelho, não o trem - aguentou todo o peso do meu corpo, e fez com que eu travasse no Y. Se não fosse por ele, eu não seria um Y. Seria um I. E sem o barulho, a moça não viraria para me ajudar, eu não teria forças para me segurar, o trem começaria a andar e eu viraria um __.
Olhei para meu joelho, passei a mão por ele, e estava quente, o jeans marcado com sujeira e ferrugem, mas intacto. Jeans bom, pensei. Mas, como já disse, o pior estava por vir. Por sorte, ninguém, além da moça, havia visto. Este trem possue uma espécie de antesala onde ficam as portas, e é preciso descer e subir escadas para chegar aos lugares com os assentos, que, naquele momento, estavam 50% cheios. Depois de firmar a perna e perceber que o joelho aguentaria numa boa, e que tudo não passara de um susto que viraria uma boa história, quiça um bom post para este blog empoeirado e abandonado, subi as escadas e andei pelo corredor em busca de um lugar para sentar e me recuperar.
As pessoas me olhavam, e franziam suas caras sérias. Mas não é possível, ninguém havia me visto ou visto o que havia acontecido!, pensei com meus botões. Segui meu caminho até o fim do vagão, desci as escadas e me sentei numa espécie de assento retrátil, que ficava na outra antesala, onde estavam as segundas portas do primeiro vagão. Ali sentei, e minha bunda gelou. Literalmente. E percebi que algo havia acontecido. Como disse antes, o pior.
Além do dia ter sido bom para mim, pessoalmente, foi um bom dia em relação ao clima. Fazia calor, e foi a primeira vez que fui ao trabalho, desde novembro do ano passado, sem uma blusa de frio. Só com meu blaser e uma camisa fina. Maldito tempo bom. Porque quando senti que minha bunda gelou ao sentar, de duas, uma. Ou eu estava cagado/mijado, o que não faria sentido, porque provavelmente a sensação seja mais de quentura que de frio, ou eu estava diretamente sentado no estofado frio do assento. Como se estivesse sem calça. E eu posso assegurar: eu não estava cagado/mijado.
Sim, caro blogspectador. Quando meu corpo fez o Y, obviamente minha calça, que era um jeans do tipo saruel, não foi elástica o suficiente para acompanhar a abertura das minhas pernas. E rasgou. Rasgou não, porque a gente fala rasgar e pensa em quê? Num rasgo, um rasguinho, né? Não, ela esgarçou, desde o joelho direito até em cima, no fim do zíper. Esgarçou porque arrebentou o jeans, mesmo, criando uma abertura tão reveladora quanto ridícula, que nem a calça do Hulk seria capaz de sofrer.
Tudo então fez sentido. As caras sérias me olhando, a bunda gelada e o arzinho que me ajudou a retomar o fôlego quando atravessei o corredor lotado do vagão. Imediatamente coloquei a mochila no colo e aí sim minha mente foi a mil. Comecei a escrever para a Mi pelo celular, e a pensar no que eu ia fazer. Como vou chegar em casa caminhando? Cadê minha blusa de frio para amarrar na cintura? Putz, vou passar em frente ao metrô de Barceloneta, que a esta hora está sempre lotado! Justamente hoje eu tinha que usar uma cueca vermelha?
E meu joelho havia começado a doer, e eu tentava me comunicar com a Mi, mas ela escrevia vagarosamente. Piorou quando finalmente consegui contar o que havia acontecido. Não com tantos detalhes, mas com muito mais palavrões. Ela mal me respondia, e quando o fazia, mandava frases sem muito nexo e com erros de digitação. Deve ser difícil desenvolver um texto e teclá-lo em seu celular enquanto você rola de rir. Tadinha.
No fim, tracei meu plano. Eu usaria meu blaser como escudo traseiro - para o mesmo -, amarrado feito moleton dos anos 1990. Eu seguraria a mochila na frente, tapando a visão frontal, e assim caminharia até minha casa. Era um bom plano. Esperei mais 2 estações, até chegar na final. Me preparei para descer. Desci. Mirei o portal de saída, e comecei a andar. Aí percebi o primeiro problema.
A mochila, que é grande, era atingida por minhas coxas quando eu tentava andar. Isso fazia com que ela rebolasse para lá e para cá, girando no próprio eixo, aumentando absurdamente seu peso. Minha mão não aguentaria muito. Percebi que deveria diminuir a marcha, e seguir em frente, a passos curtos, porém firmes. E assim fui caminhando, e assim tardei meia hora para fazer um caminho de 7 minutos.
Eu passeava por entre as pessoas, olhava o céu, e estava tudo bem. Mas no fim do caminho, a adrenalina finalmente baixou, e as dores começaram. Doía tudo. Coxa, costela, mãos, e principalmente o joelho esquerdo. Liguei pra Mi com a mão que estava livre e a fiz acompanhar-me por todo o resto do caminho. Eu sentia que ia desmaiar no meio da rua, e as pernas estavam bastante bambas. Mas, graças a ela, cheguei em casa. Aqui, desmoronei por uns minutos, mas logo me coloquei de pé. Tirei a calça e, quando vi meu joelho, imediatamente coloquei a mão no saco.
É que havia uma bola nele, de uns 6 ou 7cm de diâmetro, e cheguei a pensar que uma das minhas bolas havia caído até o joelho com a batida. mas não era isso. Foi só a batida mesmo. E tudo foi só um susto. Um susto que virou uma história boa, que virou um post que deixa este blog menos empoeirado e abandonado.
E, para quem não crê ou acha que tudo não passou de "aumentação" de história da minhas parte, que tal algumas fotos para provar o acontecido?
Estamos bem, e vamos seguindo na luta. A calça foi pro lixo, e o joelho tá melhor. Tenho esperança de que voltarei a postar mais e mais neste blog, ou talvez, quem sabe, um videozinho ou outro, contanto coisas importantes, casuais, dando notícias, enfim, aparecendo. Não queremos deixar a distância física influenciar nossos relacionamentos com o pessoal daí. E não deixaremos.
Beijo manco e até logo