terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Reticente por reminiscências - MEGAPOST (18/01/11)

Dia importante hoje. Várias tarefas, uma longe da outra, e precisaríamos seguir um roteiro lógico e bem resolvido para que cada etapa fosse bem sucedida, pois, caso contrário, o objetivo seguinte ficaria bastante comprometido. Por conta disso, preparamos a papelada na noite do dia anterior e fomos dormir cedo. A Mi, 1h40 da manhã. Eu, 4h20. Bem cedo. Acordamos 8h30, saímos de casa em seguida e começamos:

Primeira tarefa:
Consulado brasileiro, na av. Diagonal

Motivo:
A prefeitura de Barcelona possui um guia de acolhida a novos moradores, que contém uma série de itens obrigatórios, em ordem pré-determinada, para que a estadia dos imigrantes seja ideal. Em primeiro lugar, é necessário fazer o empadronamento. Vale, isso já fizemos. O número dois da lista é pedir uma TSI (Tarjeta Sanitária Individual). Tentamos pedir a nossa, mas, de acordo com nova lei, de 2010, caso o estrangeiro seja de país da comunidade europeia ou outro qualquer que possua acordo com a Espanha, é preciso apresentar uma declaração, autenticada por consulado ou órgão responsável, atestando que o imigrante não possui cobertura da rede pública de saúde em seu país - que é o nosso caso.

Após verificar que o consulado italiano não emite tal carta, e que, portanto, precisaríamos ir à Itália para conseguir o atestado, resolvemos tentar o consulado brasileiro, que confirmou prestar tal serviço. Fizemos a declaração, assinamos e levamos ao consulado para autenticação. Hoje estaria tudo pronto.

História:
Excepcionalmente hoje haveria corte de energia, para manutenção, no prédio que abriga, em seu segundo andar, o consulado. Portanto, o atendimento seria das 9h30 às 11h00 apenas. Chegamos, e estava lotado. Durante nossa curta estada na pequena fila da recepção, ouvimos, várias vezes, a funcionária dizer Aqui está sua senha, mas não podemos garantir que você será atendido, pois a energia será cortada por volta das 11h30. Que ótimo, pensei, enquanto retirava nossos canhotos - referentes aos documentos pedidos - da mochila.

O segurança, que assistia a tv, quer dizer, que trabalhava ao lado da recepcionista, avistou os papéis e, friamente, nos disse que poderíamos aguardar no guichê 4, apresentar os recibos e retirar as declarações. Agradeci e fomos até lá. Fiquei de pé, aguardando, em frente ao tal guichê, onde, do lado de cá do vidro, havia uma mulher de braços cruzados, também aguardando.

Cerca de 15 minutos se passaram, e nada. Vimos as senhas rodando muito lentamente, pessoas sendo chamadas, contando suas histórias de como foram roubadas e o por quê da pressa da emissão de um novo passaporte, enquanto, em cada guichê, lia-se um aviso impresso em matricial Não fazemos urgência, por favor colabore. Sério. Bom, de repente, do lado de lá do vidro, vi uma senhorinha, cabelos brancos, óculos pesados pendendo na ponta do nariz, andando com certa dificuldade, passos tranquilos, mas trêmulos, vindo em direção ao guichê 4, trazendo uma pasta nas mãos.

Ela entregou o conteúdo da embalagem para a mulher que aguardava e, neste exato momento, dei um passo à frente, esticando o braço que terminava com a mão que carregava os canhotos. A mulher foi embora, a senhora olhou para mim, desceu o olhar pelo meu pescoço, seguiu pelo ombro, percorreu o braço, cotovelo, antebraço, mão, papéis. Ela esticou seu braço envelhecido, recolheu os canhotos, sorriu, virou à direita exatos 90 graus e pois-se a procurar nossas pastas entre algumas outras.

Será que eles escolheram a funcionária mais velha, mais lenta e mais cega para aquela função - de procurar e entregar documentos - de propósito? Havia várias pastas ao lado da mesa, mas a pasta da mulher atendida antes de mim estava em outra sala, longe dali. E, pela cara da moça, ela já estava esperando ali há algum tempo. Eu, heim.

Resultado:
Após segundos de procura, lá estava a declaração da Mi. Momentos depois, a minha. Ambas, entregues a mim, foram direto para minha mochila. Cerca de 15 dias e 40€ depois, os documentos estavam conosco. Conseguimos!


Segunda tarefa:
CAP (Centre d´Atenció Primària [Centro de Atenção Primária])

Motivo:
É praticamente o mesmo motivo anterior. O fato é que já havíamos ido ao CAP 2 vezes. Na primeira, não falávamos uma palavra de castelhano e nem sabíamos o que era o catalão. A atendente, de forma muito fria, falou sobre a tal declaração. Mas, como dissemos que a Mi era italiana (pois estávamos começando o processo de busca ao NIE da Mi), fomos ao consulado italiano, e nem pensamos em ir ao brasileiro.

Na segunda vez, a atendente foi bastante solícita, mas eu acabei discutindo com uma médica que insistia em falar com a funcionária na minha frente como se eu não estivesse lá. A frase que mais gostei de ouvir dela foi O problema é seu, não tenho nada a ver com isso. Mas enfim, a funcionária, sem jeito, explicou o lance da carta, e disse que o governo brasileiro mantinha um acordo com o espanhol, e, portanto, o consulado poderia expedir a tal declaração.

História:
Como a primeira etapa havia dado certo, levamos nossas declarações assinadas e autenticadas ao CAP. O consulado fica na Diagonal, no cruzamento com a Rambla, e o CAP fica aqui do lado de casa. Pegamos o metro L3, depois L1, descemos no Arc e andamos até o grande e moderno prédio. Fizemos o percurso silenciosamente. A apreensão era grande, mas a confiança também. Afinal de contas, temos agora a ajuda da Corina - que será apresentada a vocês na próxima etapa. Chegamos. Entramos. Esperamos. Fomos atendidos por essa mulher que, apesar de sentada, parecia alta. Alta demais.

Apresentei os papéis e passaportes, disse do que se tratava. Por alguns segundos aquela papelada ficou ali, na mesa, largada. A mulher parecia em catarse, não sei, observando todos os documentos sem falar ou agir. Fiquei preocupado. Ela, então, chamou outra funcionária, conversaram, a segunda informou a primeira a respeito do acordo Brasil-Espanha. A segunda falou Precisa de uma declaração assim assim assado. E a primeira Aqui está. E a segunda Precisa também do passaporte dele. E a primeira Também está aqui. E a segunda E o empadronamento? E a primeira Ele trouxe também. Então a segunda falou para a primeira o que eu queria ouvir. Ya está - que, aqui significa algo como Então pronto. A segunda olhou para mim e sorriu. Eu sorri de volta. Respondemos várias e várias questões, enquanto a expectativa aumentava, mais e mais.

Resultado:
Escolhemos nossa médica, pegamos nosso número provisório para atendimentos emergenciais gratuitos. Nossa tarjeta deve chegar em casa daqui cerca de 1 mês. A partir de então poderemos também marcar consultas. E foi isso. Conseguimos!!


Terceira tarefa:
Hospital del Mar

Motivo:
Pouca gente sabe, mas no dia 25 de dezembro de 2010 fomos ao hospital. A Mi teve uma indisposição estomacal, e decidimos ir ao Hospital del Mar, que fica perto de casa, de frente para o mar. Seria lindo se não fossem 23h30 do dia de natal. Será que estaria lotado? Será que estaria fechado? E sem a tarjeta, será que seríamos atendidos? As respostas são, respectivamente, não, não e sim. Chegamos após uma caminhada curta, porém respeitável.

A noite estava fria, mas as ruas estavam calmas e o visual daquele caminho até então desconhecido merece um post à parte. Enfim, chegando lá, a Mi apresentou passaporte e empadronamento para que o hospital faturasse a consulta aqui pra casa, pois não tínhamos a tal da tarjeta sanitária. Fomos imediatamente atendidos pelo médico-chefe de plantão. Em seguida, a Mi tomou uma medicação e aguardou. Algo em torno de 15 minutos depois, uma médica nos chamou, fez alguns exames, explicou a situação e passou a receita.

No dia seguinte, fomos à farmácia. Eram dois remédios para 1 mês de tratamento. As caixas eram gigantescas. Quando olhei aquilo, pensei Putz, vai ser caro. Mais uma vez, por falta da tarjeta, não tínhamos direito ao desconto que ela proporciona em todos os medicamentos de receita médica - cerca de 70% de desconto, segundo a farmacêutica. A conta fechou em 10€. Eu achei bom pacas.

Alguns dias depois, já em 2011, recebi um telefonema. Era da administração do hospital, dizendo que não haviam preenchido a papelada da Mi com o número de sua tarjeta. Expliquei que não tínhamos. Ela, então, passou um número de telefone. Pesquisei e descobri que tal número era de uma ONG que ajuda imigrantes com as burocracias de Barcelona. A Fer nos ajudou a marcar uma cita. Fomos dias depois para o escritório da Salud y Familia, onde conhecemos a Corina, uma mulher simpática, paciente e disposta a nos ajudar. Resumindo, ela preencheu um papel verde, disse para voltarmos ao hospital e apresentar o tal papelzinho para o RH, para darem baixa na fatura. Seria como se a ONG pagasse nossa conta. Uau!

Eu achei incrível. Mãs... E se, no dia 18 de janeiro de 2011, fossemos ao consulado brasileiro, pegássemos nossas declarações, para depois arriscarmos de novo a tarjeta sanitária em nosso CAP, e, com o número da tarjeta provisória, poderíamos aparecer no hospital, apresentar a numeração e tentar dar baixa na fatura sem a necessidade da ajuda da ONG? Ah, agora tudo faz sentido! A ordem, as tarefas, o esforço de se cumprir o roteiro exatamente da forma planejada.

Nossa, este post está tão longo. Bom, assim eu compenso os dias que não escrevi.
Continuando.

História:
Fomos de casa para o hospital andando, aproveitando a vista da praia e o solzinho que começava a aparecer, ainda morno. A área do hospital é gigantesca, com uma grande galeria na parte posterior, seguida por um espaço aberto e agradável e, depois, a entrada do hospital propriamente dito. Chegamos no balcão de informações. Pedimos informação, que nos foi dada. Fomos ao RH, apresentamos a papelada novamente e o número da tarjeta sanitária provisória da Mi.

Resultado:
A atendente, simpática e de fala rápida, anotou o número na fatura e disse Ya está. E foi isso. Conseguimos!!!


Coisas maravilhosas estão acontecendo conosco nos últimos tempos. Temos uma pequena viagem planejada para daqui alguns meses; Tenho alguns trabalhos na agulha; Nos aproximamos de pessoas incríveis, daquele tipo de pessoa que você sabe que é pra vida toda; A Mi está bem do estômago;. Nossas famílias estão bem; Nossos amigos estão bem.

Apesar disso, ainda estou reticente. Não por ser pessimista nato ou ingrato, mas as reminiscências de tudo que aconteceu - resultando em nossa vinda para Barcelona - não podem ser consideradas apenas lembranças enfraquecidas. Devem, repito, devem ser levadas em conta como ensinamentos. Afinal, o importante de cair é aprender a levantar.

Claro, não é porque caímos uma ou duas vezes que cairemos a terceira. Sei também que ambas as quedas nos ensinarão a evitar uma nova. Acredito, realmente, que as coisas estão entrando nos eixos. Minha premissa em relação a esta viagem sempre foi buscar felicidade, dinheiro, realização. Mas como se busca isso? Quer dizer, por exemplo, quando você pode dizer que seu casamento deu certo? Depois que ele acaba?

Estou aprendendo a viver o presente, a aproveitar as oportunidades e curtir o momento, sem esquecer do futuro e levando-se em conta o passado. Ainda sim, continuo reticente.

Acho que minha pergunta real é: se ao cair aprendo a levantar, o que deve acontecer para que eu possa aprender a voar? Ou ainda, preciso ficar triste para aprender a ser feliz?

É apenas uma pergunta retórica, de fato. Um desabafo. Desculpem-me por isto, e pelo megapost, mas o prazer de escrever novamente sobrepôs minha preocupação com estética e regras de blog.

Estamos bem e esperançosos. Amamos vocês do fundo do nosso coração.
Sentimos saudade, mas acho que estamos encontrando, finalmente, nosso caminho.

Besos mega-hiper-super-ultra-blaster-gigantescos

Nando (e Mi, que queria contar a novidade para a mãe, mas esta não ficou online a tempo)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Último capítulo (10/01/11)

Como bom novelista (e não noveleiro) queria deixar o último capítulo para o post de sexta-feira que vem - com reapresentação no sábado -, mas calhou de ser segunda, e não serei maldoso com familiares e amigos que acompanham esta novela há mais de 3 meses. Vamos lá?

"No capítulo anterior, Nando Freitas havia conseguido enfrentar e derrotar sua maior inimiga, a Fila Gorda. Após horas e horas de luta, sudoku e conversa-mole com sua parceira incansável, a destemida e sempre acordada Mirela de Freitas, Nando sobreviveu ao processo de pedido da tão sonhada Tarjeta de Familar de Cidadão Europeu. Após pagar a taxa referente à confecção do objeto de desejo, nosso herói - ? - precisou esperar 30 dias para poder retirar o mesmo. Foram horas de agonia, minutos de impaciência e segundos de desespero. Mas o perídodo havia terminado. O calendário estava completamente marcado. Todos os dias, entre 10 de dezembro de 2010 e 10 de janeiro de 2011, haviam sido ticados. Era chegada a hora. Finalmente."

Hoje levantei sozinho, pois resolvi deixar a Mi dormindo. Sabia que não haveria fila, ou desespero, ou chateação. Bastava entregar o canhoto com meu nome e NIE, passaporte para averiguação de identidade e recibo do pagamento da taxa. E pronto. Talvez uns 2 minutos para a procura da tarjeta, que deve estar lá, esperando pelo dono, tão ansiosa quanto ele. Portanto, era capaz d´eu voltar antes mesmo da Mi acordar. Eram 8h30.

Chequei a internet, revi o endereço, percorri o caminho na minha cabeça. Tudo memorizado. Me vesti, despedi-me da Mi, mas acho que ela não notou, e tomei meu caminho. Como a Oficina funciona entre 9h e 14h, não tive pressa. Andei calmamente, mas a passos largos, pois a ansiedade era grande. Nem percebi o fim do cigarro, que, tragado pelo vento, começava a queimar o próprio filtro, pois esqueci de fumá-lo. Minha mente estava embebida em memórias. Todo o processo, desde as primeiras perguntas sobre o NIE da Mi, as primeiras portas batidas na nossa cara, as horas e mais horas de espera, o fim do dilema dela e o começo do meu, enfim, todo o filme era projetado constantemente atrás de meus olhos. Talvez por isso não senti o cansaço ao chegar no lugar de retirada de tarjetas, uma oficina de polícia na Mallorca, 213. Eram 9h25.

Eu imaginei muito este momento. Pensei até, certo dia, que poderia ser como um Drive Through do McDonalds. Primeira cabina, entrego o canhoto e mostro meu passaporte. Segunda, deixo o recibo. Terceira, meu pedido está pronto: uma Tarjeta de Familiar de Cidadão Europeo. Sem picles. Rárárá, Sem picles, a frase ainda ecoava em minha cabeça e o sorriso continuava marcando meu rosto quando entrei na oficina, segui para uma sala à direita e vi, mais uma vez, centenas de pessoas esperando por atendimento. Sim. Centenas, mas pareciam milhares. Não foi como das outras vezes, pois de imediato retirei minha senha R200, quando no painel o número R116 era chamado para a mesa 2. Não havia, portando, a tal fila gorda. Mas haveria espera. E de pé, porque as cadeiras eram raras e ocupadas. As mesas de atendimento ficavam na sala oposta ao hall de entrada, atrás de uma porta estreita. Portanto, não era possível acompanhar o atendimento dos chamados.

Não, isso não vai estragar meu dia, pensei, otimista, enquanto retirava do bolso o celular velho de guerra, que, quase automaticamente, acessou o ícone do famigerado sudoku. Vez em quando, espiava o painel, que piscava novamente, chamando agora o R117 para a mesa 2. Comecei a averiguar aquele objeto eletrônico para desenhar um perfil da minha situação. O que concluí, após alguns minutos, foi simples. Havia apenas 2 mesas atendendo, a mesa 1 e a mesa 2. O atendimento na mesa 1 era demorado, pois os números destinados àquela locação eram bastante espaçados. Já a mesa 2 atendia rapidamente. O atendimento todo girava em torno de 4 ou 3 minutos, dependendo do caso. Em alguns momentos, o painel ficava silencioso, e todos observavam e aguardavam silenciosamente o próximo bip.

Voltei ao jogo, e acompanhava mentalmente o número de bips, para não perder minha chamada. Quando chamar o R190, eu paro de jogar, pego a papelada que já está separada desde dezembro e esperarei ohando fixamente o painel. O R189 foi para a mesa 1, e o R190, para a 2. Começou, então, a contagem regressiva para o fim da minha novela. Os números brilhavam, laranjas, no painel escuro, um, depois o outro, rapidamente, até estancar no R199. Foram longos 6 minutos de espera. Quem me atenderia? A lerdeza da mesa 1? A eficiência da mesa 2? Bip. R200. Mesa 2. 10h34.

Atravessei o curto hall, entrei na sala de atendimento e parei. Que estranho. Consegui contar 5 mesas, mas apenas 1 estava ocupada. Uma senhora, de 60 e muitos anos talvez, com a cara mais fechada que Banco em feriado nacional, sentada atrás da grande mesa de madeira, fazia um atendimento. Eu, besta, sem saber o que pensar, perguntei educadamente, Mesa 2? Ela respondeu, com a cara tão sólida que parecia um ventríloquo, Você está vendo mais alguém na sala? Eu fiquei calmo, apesar do suor começar a brotar da testa. Sabe, quando o suor nasce na testa ou na nuca, e dá até pra sentir? Não sei, acho que meu copo estava bem cheio, e meu nervosismo se devia, claro, ao medo da velha resolver pingar a gota d´água, e eu perder o controle. Quer dizer, hoje o dia estava indo até que bem, o problema é a bagagem que a gente leva.

Bom, não sorri, não fiz cara feia. Só suei porque não é controlável. Aguardei minha vez. Enquanto isso, ouvi a discussão da velha com o homem que estava sendo atendido. Ela explicou que estava sozinha a manhã toda, e que o aparelho da mesa 1, logo ao lado, responsável por chamar a próxima senha no painel eletrônico, disparava sozinho, e ela não estava dando conta, e blá blá blá. O homem saiu, dei um passo à frente, abri minha pasta, retirei todos os documentos e entreguei-os à Sra. Educação. Ela leu, leu, e, de repente, soltou um suspiro alto, quase uma bufada. Fodeu, pensei na hora. Broxado e derrotado, ouvi a velha reclamando que eu não havia colocado meu nome no recibo da taxa. É isso? Mas o funcionário do Banco onde paguei a taxa disse que era necessário apenas constar o número do meu NIE, e... Quer saber, não vou falar nada. Nada. Peguei a caneta cedida pela mão enrrugada da atendente, escrevi meu nome completo, calle, números, e estava escrevendo Barcelona e ouvi aquela voz cinza dizendo Não precisa. Parei no Ba, entreguei o papel, a caneta, e não pude sequer olhar para a funcionária, pois, ao mirar a mesa, eu a vi. Minha tarjeta.

Sim. Minha tarjeta. Disse Tchau enquanto guardava tudo em minha mochila, para ter nas mãos apenas ela. Minha tarjeta. De súbito, toda minha história referente àquele pedacinho de plástico tatuado com minhas informaçõs voltaram, mas, desta vez, o filme foi projetado às avessas, desde aquele momento até a primeira pergunta feita, como se a história fosse desfeita, de alguma forma. E de todas as questões, informações, grosserias, respostas atravessadas, apenas uma palavra continuava em minha mente. Apenas uma.

Consegui!

Rolam os créditos.

Bônus - A volta

Feliz da vida, desci toda a Rambla, virei à esquerda na Trafalgar em direção ao Arc. Andava alegre e despreocupado quando vi logo ali, na minha frente, na esquina, que a calçada estava fechada para obras. Num cercado formado por pedaços de cerca de barras de ferro amarelas, funcionários abriam buracos, retiravam paralelepípedos, alguns conversavam, mas a maioria trabalhava. Com outra fileira dessas barras amarelas, formaram um caminho para os transeuntes.

Tomei direção para este caminho, e, ao desviar de um homem que andava na direção oposta à minha, toquei a cerca amarela com a mão direita. Apenas toquei. Mas pude perceber, pelo canto dos olhos, que aquela cerca, que media cerca de 1,50m de comprimento por 1m de altura, começou a cair. E em direção ao funcionário que, dentro de um pequeno buraco, escavava a calçada de costas para a tal cerca. Continuei andando, observando, discretamente, aquela cerca, que pendia, em slow motion, para dentro do cercado. Para dentro do buraco. Para as costas do funcionário. Comecei a andar mais rapidamente, o que fez aumentar a sensação de demora da queda do tal objeto. Quando não conseguia mais olhar pelo canto dos olhos, decidi seguir em frente e não olhei mais para trás. Apertei tanto o passo que os dedos dos pés quase gangrenaram.

Após cerca de 150m, parei e olhei em direção ao canteiro de obras, como quem procura por um ônibus, ou táxi. Ninguém me seguia. Não havia correria. Ninguém gritou pelo meu nome (Hey, Barbudón!). Ninguém.. Ih, peralá. Tem um cara, meio grisalho, meio calvo, de jaqueta amarela com faixas cinzas refletoras, vindo em minha direção!

Desisti do ônibus e do táxi e retomei o meu caminho. Dobrei a esquina, segui em frente na Comerç, atravessei a rua, voltei à calçada, comecei a procurar as chaves no meu bolso, vi um objeto no chão, observei alguns homens que faziam uma ref... Pera lá. Que objeto é esse? Voltei 3 ou 4 passos, olhei para um lado, para o outro, não vi ninguém por perto e recolhi o que parecia ser uma nota de 10 euros. E era. Nova, estalando. Resolvi ficar ali, com a nota nas mãos, para ver se aparecia alguém procurando por ela. Afinal de contas, perder dinheiro pode acabar com o dia de qualquer um, e seria uma boa ação, que contrastaria com o soterramento que causei alguns minutos antes. E fiquei parado, na calçada, esperando.

Foram os 2 segundos mais demorados da minha vida. Quando percebi que ninguém havia aparecido, retomei o passo, andei cerca de 20 metros e entrei no prédio. Tomei o caminho para o elevador, que, por sorte, estava lá. Fechei a porta, pressionei meu andar e fiquei observando, pelo vidro, se aparecia alguém, ou vestindo jaqueta amarela com faixas cinzas refletoras, ou com um furo no bolso, gritando meu nome e batendo violentamente contra a porta de entrada no prédio.

Não apareceu ninguém. Mesmo assim, decidi passar o resto do dia no quarto, trabalhando. Vai que...

Estamos bem. Muito bem! Amamos vocês.

Besos tarjetados

Nando (e Mi, que já gastou os 10 euros com passagens para o metro)

sábado, 8 de janeiro de 2011

Curta-metragem (08/01/2011)

Resolvi treinar um pouco mais a arte da edição de vídeos. Quem sabe não me profissionalizo?

Meu primeiro curta-metragem. Espero que você "curta" bastante! Hahaha... haha... ah, deixa pra lá...


Besos cinematográficos

Nando (e Mi, morrendo de vergonha de sua atuação)