Sinto que agora sim a minha vida vai pra frente. Novos desafios; dificuldades; injustiças; improbabilidades: venham todos. Estou pronto para a maioridade e suas consequências. Já estou me preparando para tirar minha carteira de motorista e meu título de eleitor. Minha vida, a partir de agora, será uma aventura! Quero sair por aí, viajar de mochilão, ir pra Disney conhecer o Pateta, dançar funk na Mangueira (no morro, que fique claro), encher a cara em Salvador, encher a cara na Oktoberfest, encher a cara em Búzios, fazer churrascos com os amigos do Imaculada, pichar muros, destruir telefones públicos, pintar a cara dos amigos bêbados. Enfim, aproveitar a vida.
Bem vindo, "21", e bora começar a viver!
Ah, como seria bom se fosse verdade. Fazer "21" anos de novo. Mas tudo isso não passou de ilusão. Um delírio de um cara peludo em tempos de calor de 40 graus, que não dorme bem à noite há 2 semanas mais ou menos, por conta do volumoso colchão de pelos que possui na região torácica do peito.
Minha vontade era arrancar a minha própria pele e usá-la de abano. Ou passar Vick no corpo, chupar um Halls Preto e beber água de bebedouro.
Agora, além das minhas viagens e palhaçadas até agora, preciso descrever algo muito legal que me aconteceu hoje. E, claro, como foi comigo, tinha que dar alguma merda, né? Literalmente.
Bom, vamos lá. Hoje nossa companheira de casa, cujo nome não mencionarei porque não sei quem sabe disso e quem não sabe (Fernanda Mello) foi-se de volta para o Brasil. Nós, que ficamos, estamos meio tristes, meio felizes. Tristes pela ausência, e felizes por sabermos que era o que ela queria, do jeito que ela queria.
Mas como este blog é meu, voltemos o foco para mim, pode ser? Continuando.
Resolvi não ir ao aeroporto acompanhá-la. Sou contra despedidas. Não fazem bem. Acabei ficando sozinho em casa, aguardando notícias e me abanando com o que tivesse na mão (livros, cadernos, copos, mouse...). De repente, toca o interfone. Béééé (é um som de ovelha rouca).
-Oi?
-Fernando Freitas?
-É ele.
-Você pode descer, por favor?
Putz. A polícia. O que é que eu fiz de errado agora? Não sabia, não lembrava, mas, mesmo assim, sabia que era provável eu ter feito alguma merda. Sei lá o quê, mas devo ter feito. Vim para o quarto correndo e me livrei de prováveis provas: fechei os sites pornôs do computador, dei descarga nas drogas e joguei pela janela o corpo que guardava no armário. Coloquei meu tênis e voei até a porta de entrada do apartamento.
Abri a porta e chamei o elevador. Prontamente lá estava o velho caixote de madeira. E, dentro, uma pessoa uniformizada. Não, não era a polícia. Era o entregador da UPS, com uma caixa bege-padrão, e um olhar estranho para mim.
-Ah, eu já estava descendo. Tudo bem?
-Assine aqui por favor.
-Claro. O dia est...
-Só assine aqui, por favor.
Assinei.
-Pronto.
-Nome e sobrenome, por favor?
-Fernando Freitas.
Ele recolheu a máquina que digitalizou minha assinatura, me olhou feio, com a boca em diagonal, como um desenho animado. Fechou a porta do elevador e foi embora.
Achei estranho aquilo tudo, mas, naquela hora, nem percebi direito suas ações e reações, porque, assim que ele abriu a porta do elevador para me entregar o pacote, eu percebi. Ele soltou um pum lá dentro, e o lugar estava fedendo.
Não é fedendo. É fedendo, e fedendo muito. Não sei, talvez ele tenha almoçado lixo radioativo, ou ainda o coitado estivesse participando de alguma pesquisa gastrointestinal, sei lá. Só sei que se o Van Gogh estivesse lá naquele momento, ele não teria cortado a orelha. Teria cortado o nariz.
Assinei o mais rápido que eu pude. Nem sei se acertei minha assinatura. Acho que, inconscientemente, ao invés de escrever meu nome, escrevi 'Socorro, me acudam'.
Deixei a área do elevador o mais rápido que pude. Entrei em casa, e, aliviado, respirei fundo. Que erro, meu São João do Odor Forte. Que erro.
Eu estava impregnado. A coisa estava presa em mim feito tatuagem. Andei para o meu quarto, tentando me soltar do rastro. Sabe, como quando éramos crianças, que a gente soltava um pum e saia correndo bem rápido para cortar o rastro? Ou era só eu? Quer dizer, eu não, um amigo meu. Bom, sigamos.
Pois é. Cheguei no meu quarto. Cheguei não. Chegamos. Eu, o pacote e o futum, meu mais novo melhor amigo. Sentei e tentei recuperar o raciocínio e a visão do olho esquerdo. E o cheiro não me largava.
-Esse cara é poderoso. -pensei, em agonia.
Resolvi registrar, a partir daí, tudo o que aconteceria. Filmei tudo, praticamente não editei nada, e disponibilizo-o agora, para vocês.
Resumindo: eu adorei meu presente. De verdade. Sou apreciador de comidas variadas, principalmente para 'picar' (beliscar espanhol). Fora a mensagem enviada com o pacote, da minha família que amo e nunca esqueço um só dia. Emocionante. Tive que engolir pra não fazer papelão na frente de vocês (E isso vindo do cara que balançou livremente nas areias de Barcelona. Putz!).
Agora. Bolachas de Gruyère, bolachas de Gouda e 250g do mais puro Camembert fechados dentro de uma caixa por horas, imagina a cena. A cena não, o cheiro. Dá pra ver no vídeo que eu cheiro todos os produtos, e descubro, ali, ao vivo, a origem da confusão. No minuto 4:02, dá pra ver que, por alguns segundos, eu chego a perder a consciência.
E eu aqui, julgando o pobre entregador, que, a essa hora, deve estar no lava-rápido, dentro do carro e de janelas abertas, gritando:
-Fernando Freitas. Nunca mais! Fernando Freitas!
Brincadeiras a parte, obrigado novamente pelo presente. É tudo uma delícia, de verdade. Não quis magoar meus presenteadores, de forma nenhuma. Mas, na boa, se a bola quica na área, eu chuto mesmo! E de efeito, pro gol ser mais bonito. Mas quem me conhece vai me compreender. Eu sou assim mesmo. Torto, errado, politicamente-incorreto. E velho.
Agora com licença que vou tomar banho. Pra sempre.
Besitos de dariz tabado
Nando (e Mi, que já-já vai entrar aqui berrando: "Deixa seu tênis lá fora, pô!")
de chorar!
ResponderExcluirNando, parabéns pelo aniversário novamente e cada vez mais, você se supera nas narrativas. O blog ficou hilário,( belo presente). Desejamos que você tenha muita saúde e sucesso sempre. Beijos.
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