quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O azulejo branco-gelo - parte 1

Aviso: Palavras grandes (palavrões) a seguir. Mas não gratuitos.

Eu sou um cara bastante reservado, um pouco (muito) tímido, e este blog me ajuda a melhorar neste aspecto. Além do prazer que sinto em escrever, é claro. Mas, ao contrário do que muitos (poucos, que são os raros e ralos leitores) pensam, eu não escrevo para ser engraçado ou cômico. Eu escrevo simplesmente uma narrativa, que conta um ou vários acontecimentos e, dentro do meu ponto de vista, procuro ser fiel à realidade e aos fatos apresentados por mim.

Aí pensei se deveria ou não escrever a próxima história. O assunto é particular e muito, muito privado. Mas, como estou na chuva, o negócio é escancarar e botar a boca no trombone.

Tudo começou umas 3 semanas atrás, no fim de julho. Comecei a sentir um certo desconforto, uma coceira, um "picor", um comichão, em algumas áreas privadas particulares. Algumas não. Uma só. O cu.

Assustou? Leia a primeira frase desta postagem e depois volte para o próximo parágrafo. Obrigado.

Tenho certeza que 100% dos que estão lendo já sentiram isto. É tão normal e comum como fazer xixi e cocô. Ainda mais neste verão de 40ºC daqui (quando o dia está 36ºC, a área da bunda pode alcançar até os 64ºC). Mas enfim, a situação foi piorando com o passar dos dias, e o que era uma coceirinha esporádica se transformou em urticária braba, dolorosa e dolorida. Até que resolvi, nesta última sexta-feira, dia 2 de agosto, procurar assistência médica.

Era meu dia de folga, e, apesar de não querer perder meu precioso miniferiado num consultório médico, a situação era desesperadora. Não tem coisa pior do que sentir uma coceira e não poder coçar. É como aquela poeirinha dentro, lá dentro do nariz, que faz aquela coceguinha desgraçada, e o espirro não vem, e a gente fica olhando pra cima, com a cara esticada, as narinas abertas, a boca escancarada e os olhos entreabertos, esperando que a sensação de espirro se torne um de fato.

Enfim, eu já estava bastante machucado. Apesar da minha vigilância e persistência, meu problema era durante a noite. Eu acordava várias vezes, me coçando copiosamente, e, segundos depois, aquela ardência. Minha bunda estava em carne viva. Quando eu tomava banho, ao menos 50% do tempo era para lavar a bunda. Primeiro porque a água, ao entrar em contato com a carne viva e assada, parece ácido puro. Segundo porque eu fazia questão de me lavar bem, mas bem mesmo. E naquela semana a gente estava de sabonete líquido novo, chique, cheio de coisas boas pra pele. Aí usava e abusava do sabonete na minha higiene.

Não teve jeito. Tive que tomar um banho extra, esperar a Mi chegar do trabalho naquela tarde e ir até o Hospital del Mar tentar uma visita de emergência. Fiz isso, e fomos andamos até lá. Chegamos, e consegui ser encaixado. Sentamos e esperamos por, não sei ao certo, talvez uma meia hora, não lembro. Quando a sensação de chegar perto do alívio toma conta da gente, o tempo é absolutamente secundário. Então, depois de certo tempo, fui chamado.

Entrei sozinho. Era minha primeira visita a esta médica, e portanto tive que responder as perguntas de praxe. Alergias, vícios, doenças na família, doenças crônicas. E eu lá, sentando sobre a banda direita, me equilibrando na cadeira, enquanto eu tentava decifrar o catalão da médica. Entender o catalão é bem difícil. Com o cu assado, fica praticamente impossível.

Então veio a pergunta. Qual o seu problema? Sabe o que é, doutora - comecei, gaguejando meu castelhano débil. É que, há mais ou menos três semanas, comecei a sentir, bom, é que... "me pica el ano" (havia treinado a frase durante toda a semana). E agora está doendo bastante, porque durante a noite eu me coço e me machuco.

A médica, séria, me olhou por cima do seu par de óculos, com cara de quem estava prestando bastante atenção. Provavelmente devia estar conversando consigo mesma, algo como "É, e hoje de manhã, enquanto eu comia meu café com pão e manteiga, eu nem poderia imaginar que em algumas horas eu iria ficar cara-a-bunda com o barba".

Após pensar por alguns minutos, ela balbuciou algo em catalão e apontou, com as sobrancelhas, a maca no canto da saleta. Eu entendi, asenti e me sentei na maca. Ela pediu para eu me deitar, e eu me deitei. Em silêncio ela se sentou em uma cadeira giratória, baixa, da altura da maca, e rolou até o armário, perpendicular à cama. Ali, à esquerda, sobre uma mesa, uma caixa de papelão. De lá sacou duas luvas azuis e voltou patinando até mim. Disse "Vira". Eu virei. Disse "Abaixa a calça", e eu o fiz. E começou o exame.

Aos de coração fraco e estômago sensível (e vice-versa), o conteúdo a seguir é bem explícito!

Foi tudo muito estranho. Ela abria as bandas como quem procura por toalhas entre dois travesseiros, ou quando buscamos uma determinada camiseta entre tantas outras dobradas dentro do gaveteiro. Sabe? Abre, olha, fecha, abre de novo, olha mais um bocadinho. Pra mim até que estava legal, curti bastante, porque o arzinho gelado estava refrescante, e era a primeira vez em três semanas que eu não sentia aquela angústia de coceira. Ela dizia que estava tudo muito, mas muito machucado, provavelmente por conta das coçadeiras noturnas. Viu, olhou e observou. Até que ela disse "Respira. Respira fundo e continua respirando".

Eu não entendi direito na hora. Estava lá, deitadinho, olhando para o azulejo branco-gelo, esperando a médica terminar o exame, quando, de repente, ouço esta frase. Mas poxa, pensei, eu estou respirando e vou continuar respirando. Qual o problema dessa méd.... O dedo entrou todo e de supetão. Assim, todo. Senti o dedo todo entrando. O cu estava tão sensível que consegui sentir até a cor da unha da mulher. Era uma cor especial, chamada "vermelho-de-foder", conhecem?

Meus queridos, reparem bem, não foi a dor. Foi a surpresa. O espanto. Foi tudo de repente, sabe, sem nada. Nem um aviso direto, nem uma contagem regressiva, nem um lubrificantezinho, nem um vinho, nem um cafuné.

Eu, como homem quase-velho, já venho sentindo a assombração que nasce a partir da piada brasileira mais famosa/antiga/preconceituosa que existe no nosso mundo masculino. "Ao fazer 40 anos, é necessário o primeiro exame de toque". E eu, ali, 4 anos adiantado, totalmente entregue, sendo descabaçado em plena luz do dia.

Na hora parei de respirar. Aí lembrei da frase que a médica havia dito poucos segundos antes, e pensei "Ah, tá. Não era uma frase. Era um aviso". E eu lá, em posição fetal, parecendo uma marionete com um dedo no meu cu, olhando fixamente o azulejo branco-gelo. Nunca mais vou esquecer do maldito azulejo branco-gelo.

Dói assim?, perguntou a médica. Nã-nã-não, doutora, respondi sinceramente. E não doía mesmo. Aí a filha da puta disse "É, mas aposto que assim vai doer".

E, acompanhando a frase, o seu indicador começou a rotacionar para para a direita, e a tomar forma de gancho. E foi assim, em câmera lenta mesmo. Ela dizia "assim" e girava, "vai", girava mais, "do", girou os 90º, "er", fez o gancho com o dedo.

Aí, companheiro, quase dei a luz. Fiz um "Éééé" meio gritado, meio abafado, e bastante sofrido. Aí doeu. Parecia que a mulher tinha desrosqueado meu cu. Me senti uma garrafa de vinho, e o cu era a rolha. Eu esperava até ouvir um "póf" quando ela tirasse o dedo. Mas ela não tirava. Ela mexia o dedo. E eu sentia o dedo mexer dentro do meu estômago. O choro na garganta, minha mão tapando o azulejo branco-gelo, e minha vida toda passando feito uma projeção dentro do meu cérebro. E a cena final era a lazarenta enfiando o dedo no meu cu e rodopiando. Faltou gritar "U-hú!" enquanto rodava o dedinho.

Não sei quanto tempo isso durou. Talvez uns 3, 5, 6 segundos. De qualquer forma, foi tempo demais. Eu não estava psicologicamente preparado para isso. Ela sacou o dedo de lá (e não fez o "póf" esperado), rolou até a lixeira, jogou as luvas no lixo e foi até sua mesa. Me deixou lá, largado, de lado, perninha junta, joelho com joelho, com a bunda exposta, levemente rotacionando meu corpo no próprio eixo, num ninar solitário. Ela disse "Pode vir". Eu me virei, abotoei a calça ainda deitado, me levantei calmamente, porque minha pressão tinha ido lá pra baixo - na altura do cu provavelmente -, respirei duas, três vezes e saltei da maca. Andei a passos de tartaruga, pé ante pé, até minha cadeira. Lá sentei com cuidado redobrado, peguei minha mochila e a abracei. Era, claramente, um escudo que eu adotara naquele momento de fragilidade.

Ela disse que eu tinha uma dermatite bem feia, provavelmente causada pela troca de sabonete líquido ou de toalhinhas umidecidas (filha da puta do sabonete líquido novo, chique, cheio de coisas boas pra pele...). E que a dor que eu havia sentido no exame era por conta de algumas hemorróidas internas, que são normais até e, portanto, não precisaria me preocupar com elas tão cedo.

Me receitou uma pomada corticóide, um remédio para a circulação (para evitar que as hemorróidas progredissem) e um paracetamol para a dor das assaduras. Durante a digitação dos remédios, ela fazia piada, dizendo que este tipo de exame realmente "molesta mucho". Molesta, doutora. Molesta mais do que a senhora pode imaginar...

Ela imprimiu a folha e, com um sorriso, a entregou para mim. Eu recolhi o papel, disse obrigado - ainda o troxa agradece!? - e saí. Encontrei a Mi no corredor. Ela me viu, achou minha cara estranha (mais do que o normal) e ficou me fazendo perguntas.

Eu comecei a contar toda a história e, de repente, reparei que os dedos dos meus pés estavam brancos, tesos, afundados nas sandalhas, como quem está a beira de um precipício. Levei muito tempo tentando relaxá-los, e quando consegui já havíamos chegado em casa. Os dedos já estavam bem. Mas o resto ainda estava completamente traumatizado. Fui, tomei um banho de meia hora, eventualmente chorando agachado no cantinho do banheiro abraçado ao meu ursinho de pelúcia, coloquei um calção bem largo e fui tirar uma soneca.

Acordei suando, assustado. Levantei, fui até a sala e encontrei a Mi. Eu disse "Mi, tive um pesadelo terrível...". Ela, com um sorriso geométrico no rosto, respondeu "Não, não foi pesadelo", e me mostrou a receita da médica. Eu gritei (internamente), e sentei na cama. E na hora em que eu sentei, veio uma dor. Dor nova. Era a que eu havia sentido no exame, mas totalmente fora do contexto. Isto é, a mesma dor, agora sem o dedo para acioná-la.

No fim das contas, a médica estava errada.
E o meu pesadelo estava apenas começando.

Apagam-se as luzes. Fim da primeira parte. Fecham-se as cortinas.
Beijo doído e até breve com a segunda parte da saga "O azulejo branco-gelo"

6 comentários:

  1. rsrsrs...rir com o sofrimento alheio é soda,né?Mas a sua narrativa foi tão divertida para mim qto a dor que vc sentiu...sorry...esperando,ansiosamente,a continuação.Esta dor,agora, deve ser das hemorróidas!!rsrs...

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  2. Q situação!!!!!! mas q foi divertida a narração....isso não podemos negar! Melhoras e no aguardo da 2. parte.......rsrsrsrsrsrsrsr

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  3. Nunca (nunca mesmo!) vi o Ju rir tanto com o 'cara-a-bunda com o barba'. Confesso que comecei me divertindo, mas no fim... tadico...
    Mas o melhor é a ilustração!

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  4. Como diz o ditado "pimenta (neste caso, dedo) no cu dos outros é refresco" hihiihiih
    Brincadeiras à parte, o xuxu sofreu um bocado...
    Espero que a parte 2 faça mt sucesso!!!!
    Ahhhh Nando Freitas, só vc msm!!!

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  5. Ouvi comentarios sobre o blog, e resolvi dar uma olhada Nando! Demais, parabéns! Que delícia de entretenimento hahaha! Vou ler a parte dois agora! Espero que vc já esteja cocumió.

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  6. Fernando, estou pensando em tentar a vida em barcelona. Gostaria de saber se pode me ajudar me passando seu email. Pode ser ?

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