quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Fila gorda (08/12/2010)

Ontem foi o dia esperado. Dia sete de dezembro. Acordei cedo para ir à Comisaria de Policia, na Carrer de Bosch. Mas não cedo demais, pois como segunda foi feriado e quarta, hoje, também seria, imaginei que estaria sossegado em relação a fila. Portanto, fui caminhando até a Praça Catalunha, onde há um escritório dos Correos. Mandei um envelope para o Brasil, caminhei outro tanto até a Balmes e virei à direita, e lá fui eu, todo serelepe e despreocupado, subindo em direção à Diagonal.

Após passar a grande avenida, e um quarteirão acima, entrei numa papelaria para tirar fotocópias. Só por precaução, pois estava com todos os documentos necessários para pedir minha tarjeta de familiar de cidadão da União Europeia. Paguei, saí e continuei subindo até dobrar a próxima esquina, também à direita. E foi aí que meu mundo caiu.

Uma fila gorda* me esperava. Uma fila gigantesca. A mãe de todas as filas. Cerca de 150 mertos de fila gorda* até o portão de entrada da Comisaria, onde uma triagem era feita, para que o extrangeiro pudesse pegar uma senha para esperar ser atendido. Lá dentro, a fila continuava. A "sala de espera" é na garagem da Comisaria. Não tem ar, não tem painel eletrônico. Terrível, terrível. Mas minha história estava apenas no começo. Juntei-me à fila. Em seguida, um peruano perguntou se eu era o último. Disse que sim, com um gosto amargo na boca. O relógio marcava 10h20 da manhã.

A fila andava uns bons 10 metros, e depois empacava por 20 minutos, as vezes mais. Eu observava aquela faixa de pessoas na minha frente, que corria pela Carrer de la Granada del Penedès e sumia na esquina da Carrer de Guadalajara. Minha sorte é eu ter o vício de jogar Sudoku, um jogo que ultrapassa a fronteira da língua, e, por conta disso, está disponível no meu celular espanhol. Essa foi a sorte. Não só a agonia da espera se torna menos difícil, mas essa minha carinha de "se-você-for-estranho-converse-comigo" só me coloca em furadas. E é claro que tinha que acontecer. O cara que estava na minha frente veio falar comigo.

Primeiro, ele só disse que iria tirar fotos ali perto, pediu para eu segurar o lugar dele na fila. Sem problemas. Ele está na minha frente, não me custa nada. Depois ele voltou. E saiu de novo da fila, desta vez sem falar nada. Foi para o outro lado da rua. Depois foi para a esquina, observar o portão da Comisaria. Depois, até o portão. Depois voltou até onde eu estava e desembestou a falar comigo. E eu lá, tadinho, querendo jogar meu joguinho tranquilo, esperar minha vez, ser atendido e ir pra casa almoçar, tendo que ouvir o colombiano falando que não ia dar tempo, que isso, que aquilo, que o lugar fecharia 13 horas - e minha informação é de que eles trabalham até 14 horas, mas não questionei -, que ele tinha passagem marcada para ir ao seu país no dia seguinte, que patati, patatá. Eu, primeiro, fiz o que aprendi a fazer muito bem. Balançar a cabeça, ora positivamente, ora em negativa, e dizer Que mierda. E ele falava, e eu balançava a cabeça e dizia Que mierda. Esse diálogo durou alguns minutos, e percebi que o cara não me deixaria em paz. Portanto, pensei no plano B.

Esse plano eu aprendi ainda no Brasil, e sempre dá certo. É o famoso Ih, peralá que meu celular está tocando. No caso, como ele estava perto de mim, precisei alterar a frase para Ih, peralá que preciso ligar para alguém. Deu certo. Primeiro, ele se afastou. Depois, achou outro companheiro, acho que boliviano, que estava na fila também perto de nós, logo a frente de uma mocinha logo na minha frente, também aficcionada com algum joguinho de celular. Eles sairam de lá para conversar, e a mocinha e eu ficamos ali, jogando cada qual seu jogo de celular.

A fila andou, e andou e andou. Começou a ir até que bem rápido. No relógio, dez para as 13 horas. Dobramos a esquina, andamos mais um pouco, e já consegíamos ver, bem perto, o portão da Comisaria, onde duas senhoras faziam a triagem. A Patrícia me ligou, confirmando uma reunião naquele mesmo dia, as 16h. Concordei, guardei o celular e retirei minha pasta com documentos, papéis e passaporte. E a fila andando. Os dois novos-amigos chegaram, e cada um se tomou seu lugar original: o boliviano, a mocinha, o colombiano e eu. Todos com os seus documentos nas mãos. 12h58. Chegamos os quatro na fila. 12h59. Entra o boliviano. 13h00. Chega o guarda e diz Acabou.

Mas heim? Que que foi? Acabou o que? Protestos, gritaria, bombas de efeito moral, a cavalaria... Brincadeira. Ele disse Acabou enquanto bloqueava o acesso da fila com uma grade. A mocinha perguntou o que havia acabado, e ele disse que a senha havia acabado. Mas não fecha as 14 horas, perguntou ela, e ele, com cara de ué, disse que havia sido um dia bastante atípico. Que a fila estava grande e gorda* desde as 7 horas da manhã, sendo que eles só abriram os portões lá pelas 9 horas. Disse ele também que lá dentro havia o suficiente para que o pessoal trabalhasse o restante da tarde inteira, extrapolando o horário das 14 horas. A mocinha perguntou qual o melhor horário para chegar lá, num dia normal. Ele respondeu 8 horas da manhã. O colombiano reclamou discretamente, contando a história de sua viagem. Nova cara de ué do guarda. Eu não fiquei bravo nem nada. Fiquei desapontado, claro está, pois essa novela não anda. Mas, de qualquer forma, era isso e pronto. Como diria minha sogra, fazer o quê?

Fui embora. Não me despedi de ninguém, e provavelmente não os verei de novo. Da nossa turma, apenas o boliviano conseguiu a sorte - ou o azar - de copnseguir entrar, para ser atendido sei-lá-quando. Enfim. Fui pra casa - a pé -, almocei, fui para a reunião - a pé - que fica perto de onde passei quase toda a minha manhã. A sorte é que Pat, minha empregadora, e seu marido Andrew, também meu empregador, são sensacionais. Cheguei precisamente as 16h15, e saí de lá as 19 horas. E o tempo voou. Fiz duas reuniões. Uma em italiano/português/inglês e outra em inglês. Peguei mais trabalhos, conversamos sobre algumas finalizações etc. Depois eu e a Pat descemos, conversamos muito, nos despedimos e voltei para casa. A pé.

Pat e Andrew tem um filho lindo, Leandro, que fará 6 meses este mês. Não aguentei e tirei fotos dos pais babões com o menino. Ele não é lindo? So cute!

Well, that´s all, folks! E a novela continua! Amanhã, dia 09, vou tentar de novo. Estarei lá as 8 horas em ponto, esperando minha vez.

Estamos bem, trabalhando muito, e por isso fizemos esta pausa nas postagens. Os dias passam voando e, quando vemos, é um dia a menos no blog. Mas o importante é que estamos bem, nos amamos muito e amamos vocês.

Besos trabalhosos

Nando (e Mi, na porta, chegando agora do trabalho. Oba!)

* ps.: Fila gorda é aquela fila que possui vários grupos de pessoas. É uma fila de grupos, não de pessoas. Tendeu?

2 comentários:

  1. aaa esse meu marido... e olha q eu não pude compartilhar essa aventura MA-RA-VI-LHO-SA...que peninha kkkkkkkkk
    mas todo o resto eu compartilho... estamos bem, nos amamos muito e amamos vcs.
    besos

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  2. na próxima você leva papel e desenha a fila. vai que alguém quer comprar e você faz uma graninha...

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