No começo de novembro, ele falou comigo. Ele me disse, com toda educação espanhola, Me dá um cigarro aí. Fiquei comovido com aquele pedido tão dramático e sincero, e relutei ao responder No tengo. Me dá um cigarro, repetiu Stevie, cujo rosto, certamente esculpido por anjos e arcanjos, parecia o do personagem Jamanta, de uma novela Global de anos antes. Repeti meu No tengo, e deixei escapar um sorriso, por conta da emoção que estava sentindo por ter sido abordado por figura tão esplêndida. Em seguida, estendeu-me a mão, mostrando um punhado de moedas. Não entendi se ele, com seu coração generoso e grande, estava me oferecendo alguns trocados, ou se ele gostaria de comprar cigarros de mim - por se tratar de um ser humano justo e respeitável - ou se estava a pedir, encarecidamente, uma ajuda para completar seu pé de meia. Diante de minha indecisão, Stevie partiu, e eu voltei para casa.
Não sei se o episódio acima mencionado influenciou Stevie de alguma forma. O fato é que Stevie sumiu, desapareceu, escafedeu-se. Há pelo menos 3 semanas, não contamos com a presença daquele homem-criança nos aguardando na saída do Dia. Nem de manhã, tampouco de tarde ou à noite. Ele simplesmente não vem mais tomar seu posto. Centenas de pessoas ficam paradas em frente ao mercado diariamente, com suas contribuições chacoalhando nos bolsos, aguardando Stevie. E nada dele aparecer, naquele balanço característico, para frente e para trás.
Na boca pequena, corre o boato de que, finalmente, Stevie conseguiu o suficiente para realizar seu sonho: comprar uma casa em Mallorca, de frente para o mar, onde, deitado em sua rede, pode desfrutar dos movimentos das ondas do mar que, sob sua regência, vão e vêm, para frente e para trás.
Stevie, não sei se você acompanha nosso blog, mas fica aqui um apelo. Dê notícias, mande um postal, enfim, não nos deixe ficar mais preocupados do que já estamos. Com toda sua inteligência óbvia e esperteza aprendida nas ruas, sabemos que você pode sobreviver em vários lugares do mundo. Mas não se esqueça de nós, seus vizinhos da Carrer del Comerç. Se você me mandar alguma correspondência, juro que remeterei aquele cigarro que, de forma tão egoísta, lhe faltei.
Fique bem, onde quer que você esteja. Porque nós estamos bem.
Amamos você, e amamos nossos amigos e familiares do Brasil.
Besos para-frente-e-para-trás
Nando (e Mi, chorando copiosamente pela falta desta figura inesquecível)
Ok. Vou ter que confessar.
ResponderExcluirTbm me encantei com o Steve e como sempre batemos varios papos cabecas e a identificacao mutua ocorreu logo do comeco, ao falar que estava pertindo de Barcelona, estive teve um colapso nervoso, ficou louco e sumiu de desespero so de ao menos pensar que nao iria mais me ver diariamente na porta do Dia, quando eu ia comprar meu galao de agua. Mas, a saudade foi tanta, que ele me seguiu. No momento esta aqui na porta de uma Bacalhoaria em Lisboa, com aquele mesmo keitinho faceiro, no seu vai e vem, para frente e para tras, movido ao sotaque portugues. MAS, ja comprou sua passagem para o Brasil e logo menos se instalara na Praca Sete, junto aos tantos outros Stevies da famosa e pacata Beaga.
Até eu ,que não tive o prazer de conhecer Stevie, fiquei preocupada com a falta de notícias......
ResponderExcluirMas ,agora que já sei do seu paradeiro, posso ficar tranquila !!!!
Adorei a história........
Muitos beijos e amamos vocês !!!!
agora mesmo que vou pra BH...era a motivação que estava precisando!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirSTIVIE nós te amamos... ou não kkkkkkkk
esse meu marido...