segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Jura que traduz? (08/11/10)

Está chegando o dia. Em breve terei que ir à Oficina de Extrangeiros, levar minha papelada e conseguir, enfim, minha permissão de permanência e trabalho em Barcelona. Um dos últimos documentos que eu precisava era a tradução juramentada da nossa certidão de casamento. E finalmente encontrei a profissional que faria o trabalho. Seu nome: Cristina Aguilera. Não é a cantora. Acho. Bom.

Levantei cedo, e o dia estava especialmente frio. Um frio frio. Frio gelado mesmo. Foi complicado sair debaixo da coberta, ainda mais ao lado da Mi. Mas a necessidade é prioritária, portanto me arrumei, tomei um café e parti. A casa da Cristina fica, de acordo com o mapa, perto do consulado italiano, passando pela Casa Milá, mais ao norte. Passa a Diagonal, primeira à direita, terceira à esquerda, número 21. Fui a pé para economizar o ticket de metro. Saí de casa até que tarde, pois revisei toda a papelada que eu e Mi separamos no dia anterior. Perdi muito tempo também me encapotando. Sempre voltava ao quarto para adicionar outra peça de roupa. Por volta do meio-dia, já estava na rua.

Fui caminhando tranquilamente pela Princesa, uma vez que o escritório de Cristina funcionaria até 14h. Subi em direção à Praça Jaume e segui pelas vielas em direção à rambla marginal. Foi entre uma ruela e outra que, de súbito, tive um click. Eu havia recebido dois e-mails de tradutores juramentados. O primeiro havia escrito o básico. Valor do serviço, endereço e prazo de entrega. Cristina me respondeu no dia seguinte, apresentando-se de forma simpática, informando tudo o que eu queria. Escolhi ela. Porém, acabara de perceber a confusão. O primeiro me informou que trabalhava até 14h. A Cristina não. Ela poderia me receber de segunda à sexta, das 9h às... 13h.

Desespero. Olhei para o relógio. Eram 12h15. Não vai dar tempo. O caminho é todo subida, e o frio havia congelado minhas articulações, inclusive minha mandíbula, motivo pelo qual não gritei. Resolvi arriscar. Apertei o passo e fui costurando turistas, pedintes, pesquisadores, trabalhadores, todo mundo. Em pouco tempo, precisei abrir o casaco, pois estava suando. Contava as ruas e não só para nos semáforos que, obviamente, sempre estavam fechados para os pedestres. Chegando à Mallorca, rua do consulado italiano, resolvi espiar o horário. Eram 12h36.

Estou perto, mas meu passo não está rendendo tanto. Esquerda, direita, esquerda, direita, vou mentalizando a ordem das pernas cansadas, para não tropeçar no ritmo, como se meu corpo fosse um barco Viking, e as pernas, os remos. Sempre subindo, cheguei e atravessei a larga avenida Diagonal. Segui mentalmente as instruções do mapa, que anotei mas não precisei colar. Virar a primeira à direita, virei, depois a terceira à esquerda, cá estou, subir até o número 21. Nove, onze, treze, e a maldita numeração me assombra de novo. Até que chego ao destino. Toco a campainha, onde está uma plaquinha com o nome de Cristina.

Ela atende. Não, não é a cantora. Uma senhora muito simpática abre a porta, me cumprimenta e aponta a cadeira da sala para que eu me sente. Faço isso. Tento falar meu nome, mas no meio da palavra cuspo minha amígdala esquerda. Rapidamente pego-a, guardo-a no bolso do moletom e consigo, enfim, me apresentar. Abro a mochila, retiro a pasta, abro a pasta, retiro a certidão, que vai para as mãos da tradutora. Ela recolhe o documento e anota meu celular. Nos despedimos e saio. Todo o atendimento não durou dois minutos. Olho para o relógio: 12h49. Volto para a casa cansado, suado, mas com o sentimento de dever cumprido.

Durante a tarde, terminei a estrutura do meu novo blog/portifólio. Tudo pronto. Agora, só falta a cara. Ao anoitecer, encontrei-me com a Mi e fomos, debaixo de muito frio e chuva fina, ao Mercadona. Fizemos as compras da semana, e o item que me chamou mais a atenção estava na seção de carnes. Ali estava ele, embalado em plástico duro e 100% transparente, rosado, com suas reentrâncias tortuosas, ao preço de 1 euro o par, um lindo e aparentemente fresquíssimo cérebro de porco. Sim, caro leitor. Um cérebro de porco, de tamanho pouco menor que um punho fechado, reluzente e molhado. Não tenho coragem. Se bem que, poxa, 1 euro... O par! Vamos, ver. Depende muito da receita que eu achar.

E é isso. Amanhã sigo novamente ao encontro de Aguilera - não a cantora, a tradutora - para recolher o documento traduzido, e preparar tudo para o fatídico dia 19, quando tudo haverá de dar certo, para o azar de vocês, que, tenho certeza, adoram quando eu me ferro, o que sempre acaba valendo algumas risadas. Desta vez não, violão. Putz! Preciso lembrar de tirar a amígdala do bolso do moletom.

Estamos bem, amamos vocês.

Beijos cerebrais (ecat)

Nando (e Mi contando 1 carneirinho, 2 carneirinhos, 3...)

Um comentário:

  1. Oi Fe........agora vai dar certo!!!!
    Continuamos aqui na torcida!!!!
    Só uma coisinha...........cérebro de
    porco NÃO!!!!!
    Beijos para os dois e amamos muito vocês!!!!

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