terça-feira, 30 de novembro de 2010

Querido Stevie (30/11/10)

Nós conhecemos Stevie logo que nos mudamos para a Carrer del Comerç, e desde o começo nos encantamos com seu jeito moleque, sua voz fina, seu semblante tranquilo, seu olhar longínquo. Ele ficava diariamente sentado ao lado da porta automática do mercado Dia, aqui do lado, sempre segurando sua plaquinha escrita à mão, pedindo moedas aos transeuntes. Balançava para frente e para trás, o que gerou seu apelido: Stevie (Wonder).

No começo de novembro, ele falou comigo. Ele me disse, com toda educação espanhola, Me dá um cigarro aí. Fiquei comovido com aquele pedido tão dramático e sincero, e relutei ao responder No tengo. Me dá um cigarro, repetiu Stevie, cujo rosto, certamente esculpido por anjos e arcanjos, parecia o do personagem Jamanta, de uma novela Global de anos antes. Repeti meu No tengo, e deixei escapar um sorriso, por conta da emoção que estava sentindo por ter sido abordado por figura tão esplêndida. Em seguida, estendeu-me a mão, mostrando um punhado de moedas. Não entendi se ele, com seu coração generoso e grande, estava me oferecendo alguns trocados, ou se ele gostaria de comprar cigarros de mim - por se tratar de um ser humano justo e respeitável - ou se estava a pedir, encarecidamente, uma ajuda para completar seu pé de meia. Diante de minha indecisão, Stevie partiu, e eu voltei para casa.

Não sei se o episódio acima mencionado influenciou Stevie de alguma forma. O fato é que Stevie sumiu, desapareceu, escafedeu-se. Há pelo menos 3 semanas, não contamos com a presença daquele homem-criança nos aguardando na saída do Dia. Nem de manhã, tampouco de tarde ou à noite. Ele simplesmente não vem mais tomar seu posto. Centenas de pessoas ficam paradas em frente ao mercado diariamente, com suas contribuições chacoalhando nos bolsos, aguardando Stevie. E nada dele aparecer, naquele balanço característico, para frente e para trás.

Na boca pequena, corre o boato de que, finalmente, Stevie conseguiu o suficiente para realizar seu sonho: comprar uma casa em Mallorca, de frente para o mar, onde, deitado em sua rede, pode desfrutar dos movimentos das ondas do mar que, sob sua regência, vão e vêm, para frente e para trás.

Stevie, não sei se você acompanha nosso blog, mas fica aqui um apelo. Dê notícias, mande um postal, enfim, não nos deixe ficar mais preocupados do que já estamos. Com toda sua inteligência óbvia e esperteza aprendida nas ruas, sabemos que você pode sobreviver em vários lugares do mundo. Mas não se esqueça de nós, seus vizinhos da Carrer del Comerç. Se você me mandar alguma correspondência, juro que remeterei aquele cigarro que, de forma tão egoísta, lhe faltei.

Fique bem, onde quer que você esteja. Porque nós estamos bem.

Amamos você, e amamos nossos amigos e familiares do Brasil.

Besos para-frente-e-para-trás

Nando (e Mi, chorando copiosamente pela falta desta figura inesquecível)

sábado, 27 de novembro de 2010

Post para maiores (27/11/10)

Êêê, sabadão. Não vamos trabalhar hoje, vamos passear! Foi com essas palavras de ordem que comecei o dia. A Mi consentiu. Bom, quer dizer, na verdade eu pedi permissão para a Mi, e ela deixou. Mas não contem para ninguém. Lá fomos nós para nosso passeio. Pensei num caminho bacana, para mostrar para a Mi lojas e curiosidades que aprendi nas minhas andanças por aí.

Fomos até a Jaume pela Princesa, até a cidade, após a prefeitura, e viramos à direita. Pegamos uma rua cheia de lojas interessantes. Lá vimos desde aluguel de roupas chiques para festas até venda de arte (objetos antigos, pinturas etc). Depois viramos à esquerda, e em seguida à direita novamente, até a Petrixol, famosa rua do chocolate. Seguimos por ela, viramos à esquerda e chegamos à Rambla principal. Subimos em direção à Praça Catalunha, e viramos à esquerda, na Carrer de Taller. Era onde eu queria chegar.

Esta rua possui várias lojas Outlet, de marcas famosas e normalmente caras, como Dolce & Gabana, Diesel, e por aí vai. Começamos a olhar cada uma das lojas, de um lado, do outro, e uma faixa chamou nossa atenção:

Opa, é aqui mesmo que vamos entrar. Lá dentro, a Mi não gostou de nada. Já eu, separei várias peças para experimentar. Foram três calças, três blusas, uma calça de moleton. Resolvi levar o moleton e uma calça, mas faltava algo para o frio. Já perto da saída, vi uma prateleira baixa com peças grossas e cores escuras. Quando abri, era uma jersey preta, 100% algodão, linda. Experimentei ali mesmo, e caiu como uma luva. Na prateleira de baixo, outras peças iguais, mas mais claras, um tom de bege, ou cáqui. Resolvi levar, então, 2 jerseys - uma de cada cor, obviamente - e a calça de moleton. Afinal de contas, a calça de brim que havia separado era mais para completar o trio de peças que qualquer coisa. Pagamos os 10 euros e saímos satisfeitos.

Alguns metros adiante, entramos no outlet Logo, com várias peças muito bonitas e diferentes. A Mi adorou, mas resolvemos segurar a grana, porque esta ainda é curta. Continuamos o passeio até a praça da Universidade, e de lá retornamos para casa.

No caminho, porém, resolvemos conhecer uma loja. Essa loja, de nome peculiar, havia sido visitada por nossa roommate Fernanda, que nos contou maravilhas sobre o lugar, tanto em relação à qualidade como os preços ofertados. E como estava no nosso caminho, resolvemos visitar. E, facilmente, achamos a tal loja. Olha ela aí!

Pois é. Fomos conhecer a Shana de Barcelona. Ela estava um pouco lotada, e quando aparecemos na porta da Shana, muita gente saiu. Aí, quando tinha mais espaço na Shana, a Mi entrou. Eu fiquei do lado de fora, porque apesar do frio, dentro da Shana estava quente que só vendo. Fiquei em frente, olhando a Shana, vendo o pessoal entrar e sair. Atrás de mim, a lateral do museu de Dali, com janelas altas e uma fileira de grandes vasos. De repente, detrás de um deles, levanta um cara, com cara amassada de sono. Ele vai até mim, pergunta as horas. Eu digo duas e trinta. Duas?, ele pergunta, e eu confirmo. Ele diz preu dar um cigarro para ele. Eu digo que não. Ele vai embora.

Hoje mesmo outro cara pediu para eu ajudá-lo, comprando lenços de papel que ele estava vendendo. Eu disse que não tinha dinheiro, e ele insistiu. Eu segui dizendo não, não, não, até que ele parou de falar, me encarou bem e disse, com uma boca cheia de bocadilho de jamón, que eu parecia muito o Che Guevara. E saiu. Ai ai, eu mereço. Quanto mais eu rezo... Voltemos à Shana.

Lá estava eu, esperando, pacientemente, a Mi sair da Shana. Realmente tinha bastante gente naquela Shana, viu. Era tanta gente que pensei que talvez a Mi tivesse se perdido dentro da Shana. Já pensou, eu, entrando na Shana lotada, procurando a Mi, para levá-la com segurança para fora da Shana? Aí eu vi, lá dentro, no fundo da Shana, a Mi fazendo um sinal de Espera mais um pouquinho. Foi quando percebi que a Shana deveria ser muito maior do que parecia exteriormente. Então, como bom marido que sou, continuei do lado de fora da Shana, esperando minha esposa linda.

Finalmente ela saiu da Shana. Ela gostou muito de todos os itens, mas disse que só voltará à Shana quando tiver mais dinheiro. Porque, segundo ela, é muito ruim um consumidor entrar na Shana quando se está duro. Descemos, então, a rua, viramos à esquerda e ali perto dou de cara com um hotel. E o nome do hotel... Bom, se eu contasse ninguém acreditaria. Portanto, resolvi sacar uma foto:

Eu é que não entro nesse hotel. Dizem que é uma merda lá dentro, por ser apertado e escuro.

Puxa vida, desculpem pela escatologia e falta de vergonha. Mas é que não podia perder essa oportunidade. Sabe como é, não é todo dia que se mora numa cidade que tem uma loja Shana ao lado do hotel Colon. Prometo que o resto do post será de mais bom gosto.

Depois que chegamos em casa, guardamos minhas compras e resolvemos ir ao Mercadona, para as compras da semana. Eu fui tomar banho, e a Mi deu uma mãozinha para a Fer. Literalmente.

E não é que o serviço ficou bem profissional? Olha só.

Depois do banho, me encapotei de roupa para enfrentar o frio de 8 graus que nos aguardava lá fora. A Mi também se agasalhou bem. Pegamos nosso carrinho e fomos comprar comida e bebida.

E foi isso. Em breve vamos começar a pensar na lista de presentes de Natal. Eu ainda não sei o que vou pedir para o Papai Noel. Mas tenho uma certeza: meu presente vai vir da Shana!

Estamos bem, amamos vocês.

Besos sem-vergonha

Nando (e Mi, morrendo de vergonha do tanto de Shana deste post)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Falta 1 mês (24/11/10)

Diretamente de minha nova estação (provisória) de trabalho, escrevo.

Com vista para este céu azul e mar de antenas e prédios, me inspiro.

E, para não passar vontade, resolvi comprar uma lembrancinha de natal para a Mi, que vimos ontem na loja Alarcon, aqui ao lado. Vou acender uma vela e deixar o quarto escuro para que a surpresa seja bacana, mais 'tcham'. Não consegui tirar uma foto boa, portanto fiz uma pequena simulação do efeito de luz.

Bem lindinho, não? Ainda falta 1 mês para o natal. Ainda ou já, ambas estão corretas. As ruas estão todas cobertas de luzes e decoração, mas ainda não foram acesas. Acho que na primeira semana de dezembro começaremos os trabalhos de decoração da casa. Estamos programando uma bela ceia natalina, e a festa vai ser bem boa.

Hoje trabalhei pouco, mas intensivamente. Acabei tendo algumas ideias para incrementar este blog, que não pode ficar morno por conta do dia-a-dia dos personagens principais - e únicos - desta história. Talvez, por isso, precisarei de um ou dois dias para elaboração do texto, mas valerá a espera. Eu e Mi vamos fechar o roteiro, provavelmente hoje, e semana que vem teremos um novo conceito de postagem.

Hoje tem show da Taïs, último do ano em Campinas. Se eu fosse por um oceano, eu iria. Mais informações, é só clicar aqui.

Enquanto isso, ficamos por aqui. Estamos bem e amamos você.

Besos misteriosos

Nando (e Mi, 'mãepostiçando' perto da Sagrada Família)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Medados de otoño (23/11/10)

Acabei de pegar esta folha caída na calçada, em frente ao nosso prédio. Este é o nosso outono.

Sempre sonhei sentir este frio, viver este clima, pisar sobre estas folhas no outono. Caminhar por ruas agora conhecidas, bem agasalhado, e de óculos escuros para proteger do sol, que não esquenta mas ilumina. As ruas estão cobertas de folhas amareladas, as árvores começam a ficar sem suas copas, e o azul do céu ganha um tom marinho.

Agora que eu e Mi conseguimos trabalho, apesar de não ser algo fixo, podemos, finalmente, relaxar um pouco. Talvez, por conta disso, começamos a ver Barcelona com outros olhos. Ela apresenta sua face mais amigável, suas frutas reluzem, suas verduras orvalhadas ficam mais expessas. Sim, os monumentos e arquitetura continua ali, imóvel e linda, mas agora parecem revelar os detalhes que perdíamos entre preocupações diárias.

Quem sabe, assim, possamos andar pelos caminhos de sempre com olhos inéditos. Quem sabe nossas emoções se renovem, nossos espíritos rejuvenesçam e nossa alegria transborde. Quem sabe consigamos andar pelas avenidas largas e ruas estreitas mirando, logo a frente, não o futuro, e sim a paisagem. Quem sabe?

Enquanto isso, vamos vivendo, sentindo saudades dos amigos e da família do Brasil, mas conscientes de que aqui estamos por um motivo justo e até nobre: nós mesmos. Começamos, há 3 anos e pouco, uma nova família. Para o mundo, somos apenas mais uma família. Pra gente, nós somos um mundo.

E que, daqui 1 mês, venha o inverno, com neve possível e frio provável. Venha o frio que vier, não importa. Nos abraçaremos ainda mais.

Estamos bem, amamos vocês.

Besos alaranjados

Nando (e Mi, ainda no trabalho, mas, claro, pensando em mim!)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Antepenúltimo capítulo (22/11/10)

O dia começou nervoso. Nervoso de ansiedade, não ira. Acordei relativamente cedo, perto das 10h da manhã, por conta do plantão de ontem. Tomei meu café, comi meu desjejum e esperei. Esperei notícias do trabalho, do tradutor, qualquer notícia. Já havia resolvido. Buscaria a tradução da minha certidão de casamento italiana hoje, iria amanhã à oficina de extranjeria levar o restante dos documentos, e quarta finalizaria o processo em outra oficina.

Resolvi escrever para o tradutor, perguntando sobre o trabalho. Minutos depois, a resposta. Estava pronta. Eu deveria buscá-la até 14h30. Chequei o horário de funcionamento da oficina de extranjeria. Iria até 17h. Resolvi fazer as duas coisas. Quem sabe? É uma viagem a menos. Em pouco tempo estava pronto. Arrumei minha mochila, conferi os documentos, separei tudo, beijei a Mi e saí. Decidi ir a pé ao tradutor, cujo escritório está localizado em frente à universidade. Não é longe.

Andei a passo acelerado até a praça Catalunha, só desviando para entrar na estação de metro, onde troquei o dinheiro ao comprar uma passagem T-10. Voltei à superfície, atravessei uma avenida e segui o quarteirão até dobrar à direita duas vezes e encontrar o prédio. Entrei, subi até o penúltimo andar e abri a 2ª porta, que continha uma placa indicativa. Lá dentro, um homem era atendido. Depois um casal de brasileiros, depois um africano, depois eu. A fila foi andando até que encostei no balcão. Comecei a falar com Josep, que lembrou-se de mim e do meu caso. Estava tudo pronto. Ele me apresentou o documento, eu lhe entreguei 2 notas de 20, e ele 1 de 10. Simples, rápido e fácil. Ah, se tudo aqui fosse assim...

Desci organizando meus papéis, virei à esquerda e fui em direção à estação da universidade, linha vermelha (L1). Lá chegando, entrei no trem que seguia ao Fondo. Praça Catalunha, Urquinaona, Arco do Triunfo, Marina, Glòries, Clot e Navas. Nesta desci, subi as escadas e lá estava eu novamente, pela terceira - e talvez última - vez. Enquanto andava, lembrava das vezes em que nós não sabíamos onde estávamos, ou se estávamos no lugar certo. As portas fechadas, as filas, a espera, o desencontro de informações. Rapidamente cheguei ao lugar, mas passei reto, pois ainda precisava de fotocópias.

Logo ao lado, numa sala estranha, ampla e apertada ao mesmo tempo, uma senhora usando um lenço que lhe cobria toda a cabeça, com exceção do rosto arredondado, aguardava no balcão, do lado de lá. Pedi as cópias apresentando os originais. Ela rapidamente prestou o serviço, e paguei-lhe o euro pedido. Saí, retornei alguns metros e me apresentei ao guardinha. Falei, ele me sorriu e pediu-me para entrar. Passei pelo detector de metais, retirei minha senha e aguardei. Cerca de 2 minutos se passaram até meu número piscar na tela. Era o primeiro atendimento. Após minha explicação, a moça da mesa 50 me cedeu outra senha. Desta vez esperei cerca de meia hora até ser chamado. O lugar estava vazio, tanto de solicitantes como de funcionários. E lá fui eu.

Sorridente, a funcionária da mesa 23 me recepcionou. Eu retornei o sorriso, enrolei a língua e cuspi o castelhano que havia treinado. Ela entendeu, leu o papel que havia levado, anotou o número do meu processo e foi aos arquivos buscar minha pasta. Logo, lá estava ela, pedindo as documentações que faltavam. Entreguei o empadronamento da Mi. 'Não precisa de fotocópia? Vale.' Guardei a fotocópia. 'A certidão de casamento? Aqui está. E a fotocópia, precisa? Precisa, então eis-la.' Aí, meu querido leitor, é que suei frio. Entenda o caso.

Os documentos apresentados - todos - precisam ter, no máximo, 3 meses de expedição. Mais que isso, não valem nada. E nossa certidão italiana era válida até dia 11 de novembro. Fomos ao consulado pedir uma atualização, mas não há escritório de registro civil em Barcelona. Teríamos que fazer o pedido oficial à Itália, aguardar 2 semanas e pagar cerca de 120 euros. Então, era esse documento ou... De qualquer forma, na sexta passada, o funcionário leu o documento e não disse nada a respeito da data. Então, por conta disso, decidi arriscar. Bom, voltemos a hoje.

A funcionária abriu a pasta da tradução e começou a ler. Verificou as informações da certidão com as que estavam em minha ficha de solicitação. E eu suando, guardando pastas e papéis, tentando disfarçar, o que, geralmente, só piora a cena. Até que veio a frase que eu não queria ouvir: 'É, na verdade este documento caducou há alguns dias.' Um filme passou pela minha cabeça. Eu não tinha nem forças para negociar. Melhor ficar em silêncio. Afinal, sou extrangeiro, talvez ela pense que não entendi o que ela falou. Mantive o meio-sorriso na cara, braços sobre a mesa e olhos fixos na funcionária. Ela resmungou mais um pouco, e fez o que eu não esperava.

Carimbou a folha.

Sim, sim, consegui! O processo fora iniciado. Ela imprimiu uma folha, duas vias, carimbou novamente ambas, passou-me a minha e disse: 'Ya está.' Eu, ainda paralisado com aquele primeiro carimbo, consegui juntar algumas palavras e perguntei qual o próximo passo. Ela indicou, na folha, o que eu deveria fazer, que é o seguinte. Após o dia 7 de dezembro, devo apresentar-me à outra oficina de extranjería, levando o tal papel, 3 fotos tipo carnet e meu passaporte. Lá, eles recolherão minhas digitais e cobrarão pela tarjeta. Eu pagarei a quantia e retornarei 30 dias depois para retirá-la. E foi isso. Ainda faltam 2 capítulos para o término desta novela. Mas ao menos sei onde ir e o que fazer, e isso é de uma ajuda sem precedentes.

Aqui, a foto do vencedor segurando o papel que já indica, inclusive, meu novo número de identidade. Meu NIE. Não é (são) lindo(s)?

Na mesma foto, um exemplo do 'meio-sorriso' causador da carimbada. Próximo (penúltimo) capítulo, dia 7 de dezembro. Não percam!

Estamos bem, amamos vocês

Besos documentados

Nando (e Mi, tentando dormir enquanto me espia por baixo da venda preta)

domingo, 21 de novembro de 2010

Rápido, rápido, rápido (21/11/10)

Domingo. Já mencionei que domingo aqui é uma porcaria? Tudo fechado, tudo parado. Mas trabalhei o dia inteiro, então está ótimo. Mas ontem foi bem bacana.

Eu e a Mi decidimos não passar mais frio. Resolvemos comprar roupas. Fomos logo cedo, lá pelas 10h, ao Diagonal Mar. Estávamos tão animados que levamos até nosso carrinho, para o caso de não aguentarmos as sacolas. Pegamos o TRAM, descemos em frente ao sh... centro comercial, andamos até o supermercado Alcampo para estacionar nosso carrinho. O sistema é simples e funciona. Um estacionamento de carrinho ladeia a saída do mercado. Basta encostar o carrinho, passar a corrente e depositar 1 euro, virar e retirar a chave. Existem também armários para os que precisam guardar sacolas, bolsas etc, também a 1 euro. De lá, fomos ao Primark.

Primark é uma loja barata, e toda Barcelona sabe disso. Por isso mesmo, está sempre abarrotada de gente. E desta vez não foi diferente. Mas conseguimos, aos trancos e barrancos, comprar tudo o que gostaríamos. E, como já mencionei, saiu barato. Eu, por exemplo, gastei o seguinte:

Par de luvas - 2 euros
Boné de lã - 3 euros
6 pares de meia grossa - 4 euros
Camisa de malha manga comprida preta - 4 euros
Carteira - 3 euros
Ceroulas (isso mesmo!) - 10 euros
Moleton - 9 euros
Casaco impermeável forrado - 15 euros
Total gasto - 50 euros

Foi uma boa compra ou não foi? - e o coro responde: fooooooi! A Mi gastou mais (mais) ou menos isso também em um monte de coisas quentinhas. Fomos então ao Alcampo, aproveitar algumas ofertas. Vi, pela primeira vez na vida, groselha - a fruta - mas não comprei. Eu (a Mi...) não quis, por achar 2,36 euros muito caro para um recipientezinho plástico cheio daquelas frutinhas vermelhas. Sem problemas. Compramos algumas coisas e voltamos para casa.

Havia chovido, e a sensação térmica caiu drasticamente. A mínima prevista era de 4 graus. Mesmo assim, depois de descarregar o carrinho cheio e 4 sacolas grandes de compras, voltamos à rua e fomos ao Mercado, terminar as compras da semana. Arroz, feijão, macarrão e hamburguer. De quebra, uva sem semente roxa, quase negra, com gosto de jabuticaba, e tangerinas doces doces doces. Vi, mas não comprei - ainda - um sorvete de microondas. Depois experimento e conto como funciona. Queijo, iogurte, geleia.

Vi o presente que gostaria de dar ao meu pai de natal, mas vai ser impossível. Por isso, inclusive, estou contando sobre o assunto. É uma garrafa de champagne cheia de bombons de chocolate. Além de ser um presente bonito, deve ser delicioso!

Pagamos a dolorosa, voltamos para casa e passamos por um homem que, sem ligar para o frio, tocava sua tuba na direção contrária. E, como vocês puderam perceber, estou escrevendo rápido porque já passa da 1h30 da manhã, trabalhei até agora, estou com um frio da p... e ainda tenho que tomar banho.

Desculpa a demora para postar e a falta de fotos, mais uma vez. Estou tentando manter o ritmo. Mas o frio torna tudo muito mais trabalhoso. Ah, inclusive, hoje, eu, Polita e Mi carregamos um sofá pelas escadas, do térreo ao quinto andar, sobre nossas cabeças, e sem paradas para tomar fôlego. Ufa!

Vou lá. Desejem-me sorte. Não só pelo banho de logo mais, mas amanhã, talvez, eu vá buscar o documento que falta para terminar o processo da minha tarjeta. Só estou esperando um e-mail do tradutor.

Estamos bem e amamos vocês.

Besos apressados, e um todo especial para Taïs, intérprete perfeita e compositora inspirada.

Nando (e Mi, que deve estar passando calor debaixo de 2 cobertas e vestida com pijama felpudo de natal)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Quase (19/11/10)

Hoje foi quase. Muita coisa quase. Quase congelamos hoje de manhã. Quase que consigo tirar o tal documento. Quase, quase, quase. Infelizmente, ao contrário do que nos foi informado no consulado espanhol no Brasil e no consulado brasileiro em Barcelona, nossa certidão de casamento brasileira não foi aceita. Apesar do carimbo do Eresp (Itamaraty), apesar do carimbo da embaixada espanhola, apesar da tradução juramentada de 40 euros.

Por sorte, quando fomos retirar o passaporte italiano da Mi, ainda no Brasil, o funcionário que nos atendia ofereceu uma certidão de estado civil pelo módico valor de R$8,00. Aceitamos. Ainda bem que este documento estava conosco hoje durante o atendimento. Porém, precisa ser traduzido. Isto significa mais gastos, mas, aparentemente, é a peça que faltava. Depois disso, é imprimir minhas digitais (em outro endereço) e, listo, aguardar um mês. Será na semana mais natalina do ano que ficará pronta minha tarjeta. Será meu presente de Natal?

Não. Prefiro ganhar um rodízio de carne... Mas vou comemorar mesmo assim, pois este cartão é minha permanência em Barcelona. Enquanto isso, vamos correndo, buscando tradutores, trabalhando e passando frio. Eu, particularmente, prefiro o frio europeu ao calor dezembril do Brasal. Se você continua com frio, põe mais roupa. E quando você continua com calor, tira a pele? Aqui a gente congela, mas depois é só colocar 3 minutos no microondas que - pimba - estamos prontos!

Estamos bem e amamos vocês.

Besos gelados

Nando (e Mi toda enrolada no edredon - tá até parecendo uma panquequinha)

Vai dormir! (19/11/10)

São exatamente 3h01 da manhã, e estou, finalmente, indo dormir. Trabalhei até tarde e estou ansioso por hoje, dia 19. É o dia do meu documento. Para quem não sabe ou não se lembra, é só clicar aqui e ler.

Desejem-nos sorte, porque precisaremos. Mas vai dar tudo certo.

Besos sonolentos

Nando (e Mi, quase acordando já!)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

As time goes by (17/11/10)

É, o tempo passa. Parece que foi ontem que tivemos uma nova integrante aqui em nosso piso. Locada no quarto da Fernanda, que passava uma temporada no Brasil, Luiza chegou e encantou a todos. Essa mineirinha - que não tem nada de 'inha' - veio para aprender Castelhano, fazer turismo e acabou, de quebra, conquistando esta dupla aqui.

Hoje é seu último dia em casa. Amanhã cedo sai o voo que a levará para o encontro de sua família, na Itália. De lá, depois de alguns passeios mais, todos eles voltarão para BH. Não fizemos festa de despedida. Não concordo com festa de despedida. Não faz sentido. Eu só faria uma festa para me despedir de alguém caso não gostasse dessa pessoa, para comemorar a partida da mesma, entende? E, obviamente, não gostando dela, não gastaria um centavo de euro fazendo festa em sua homenagem. Portanto, para mim, não faz sentido.

De qualquer forma, desejamos à Luiza - ou Luiza Guerra, a sóbria - toda sorte do mundo. Que faça um passeio gostoso, seguro e inesquecível, que tenha um retorno tranquilo para o Brasil, e que fique a certeza de que estaremos aqui, sempre torcendo por ela, uma pessoa incrível de futuro igualmente brilhante. A Mi está com você, neste momento, na sala, mas creio que ela concorda comigo em cada palavra.

Nosso encontro ano que vem, pra tal feijoada-sem-igual, está fechado. Levarei, debaixo de um braço, o violão, e debaixo do outro, minha filha. Lá contaremos mais histórias, riremos mais ainda e lembraremos dos 'ossos' que roemos neste mês e pouco de convivência. Enquanto isso, ficamos com nossas fotos, vídeos e histórias. Uma ótima viagem e obrigado por tudo. Um grande beijo dos seus novos grandes amigos.

E é isso. Desculpem-me pela ausência, a culpa foi minha. Devido um probleminha de saúde, que já foi sarado, me ausentei deste blog e deixei de dar nossas notícias. O bom é que não tivemos novas notícias, portanto vocês não perderam nada. Mas, agora, voltamos à nossa programação normal.

Estamos bem (ufa!) e amamos vocês.

Besos saudáveis

Nando (e Mi lá, hablando, hablando, hablando, hablando...)

sábado, 13 de novembro de 2010

Fotonovela (13/11/10)

E começa hoje a fotonovela de apenas um capítulo intitulada "Un buen vino y buen jamón alegran el corazón", ganhadora do 'prêmio de fotonovela com título mais longo da Internet espanhola'.

Apresentando Luiza Guerra, Mirela Alcântara, Fernando Fernandez, Polita Ferraz e Fernanda Melocotón. Cena 1. El Xampanyet, na Calle Montcada, em frente ao Museu do Picasso. Quase noite.

Luiza Guerra, Mirela Alcântara e Fernando Fernandez adentram o apertado recinto com dificuldade. Após momentos agoniantes, conseguem, finalmente, uma mesa. Cansados e felizes, pedem à garçonete, Cyntia Montenegro, o cardápio. Após dar uma risada debochante, Cyntia Montenegro apontou a barra do bar e mostrou todos os tapas e bocadillos ali expostos. Luiza Guerra, segurando sua irritação, perguntou, então, o valor do Champagne, ou melhor, do espumante. O preço da taça era de 1,90 euros, e a garrafa inteira, 8 euros. Pelo bem da economia geral, resolvemos pela botella. Cyntia Montenegro nos trouxe o delicioso líquido, despejou-o em copos especialmente preparados para se beber corretamente o vinho borbulhante, e, ali, felizes, brindamos.

Mirela Alcântara provou e aprovou. Com sua elegância que precede seu nome, virou o copo goela abaixo, sorvendo o conteúdo do mesmo, transformando a matéria líquida em gasosa, porque, segundo ela própria provou e comprovou, assim bate mais rápido.

Fernando Fernandez, ex-alcoólatra, ex-boêmio e ex-quisito, após sua primeira dose, já se perguntava onde estaria, e isso em perfeito catalão. Mirela Alcântara, sentindo o efeito da bebida que chegara ao estômago maltratado, dormia pacificamente. E atrás da cena, Juán Carlos Borges, ex-soldado da guerra civil espanhola de 36, apontava o inimigo que dali se aproximava. Mas ele tomou outro gole e sossegou o facho.

Após horas e horas de espera, conseguimos uma outra mesa, desta vez mais baixa e cercada por bancos de madeira. E lá sentamos. Nos bancos, não na mesa.

Aconteceram conversas longas, outras, curtas, e, por vezes, ininteligíveis. Luiza Guerra, a mais sóbria do trio naquele momento, cutucou Ramón Perez, um garoto estranho que possui o igualmente estranho costume de usar a calça no meio da bunda, horizontalmente, claro está, para pedir que sacasse uma foto. E assim, ele o fez. Cortês e prestativo, Ramón Perez mirou e clicou o botão da máquina, que iluminou o canto esquerdo do local com seu poderoso flash, ao passo que Luiza Guerra, Mirela Alcântara e Fernando Fernandez sorriram, mas não por causa disso, e sim por conta do mesmo.

Luiza Guerra, com sua malevolência, dispensou, educadamente, Ramón Perez, simplesmente pisando nele. Duas horas e uma garrafa de champagne mais tarde, a trupe estava completa, após a chegada de Polita Ferraz e Fernanda Melocotón.

Fernando Fernandez observa sua esposa, Mirela Alcântara, aplicando sua técnica de evaporação, e, ao mesmo tempo, lança seu olhar 86. Sim, 86, porque eles já estão vendo tudo dobrado.

Após o fim da segunda garrafa, Jesus é Genésio, urubu é meu louro e ombro é poleiro. Pedimos mais tapas para forrar a barriga, mas já era tarde. O nível de sangue em nosso álcool ultrapassava o bom senso e batia recordes.

Aí está ela, a maldita, ou bendita. Nós percebemos que este espumante, o Estevet, estava com um sabor bastante aéreo, frutoso e doce, apesar de ser semi sec. Seu gosto lembrava o bater de asas de borboleta levada pela brisa de uma tarde ensolarada e primaveril.

Ao esvaziarmos a garrafa, sem, porém, derramar sequer uma gota, descobrimos o porque de tão peculiar paladar.

Então, para comemorar a descoberta, batizamos a bebida de Champito, ou Moscagne, não me lembro bem. E erguemos nossas taças, e brindamos, e batizamos, e a mesa encheu-se de regozijo.

Para continuar a celebração, pedimos mais tapas, e também rebatizamos Cyntia Montenegro, a garçonete, de Ae. Sim, um nome simples, composto por apenas duas vogais. Ae. E toda vez que ex-Cyintia Montenegro aproximava-se da mesa, bradávamos seu nome em coro: Aeeeeeee! E a serviçal, agradecida, ecoava para o restante da taberna: Aeeeee! E a taberna, ensandecida, erguia seus copos em nossa homenagem Aeeee!

A certa altura, cerca de dois mil pés de distância da terra firme, estava, encolhido, no canto do recinto, Fernando Fernandez. Naquele momento, após refletir cuidadosamente, Fernando Fernando teve e fez a revelação. Seria, na verdade, a reencarnação de Maria Magdalena, a própria, razão pela qual, tendo em vista a quantidade de batismos realizados momentos antes, resolveu que se chamaria, a partir daquele instante, Maria Magdalena.

Enquanto Fernando Fernandez Maria Magdalena saía para fumar, na mesa permaneceram as mosqueteiras - literalmente - Luiza Guerra, Mirela Alcântara, Fernanda Melocotón e Polita Ferraz. Ali jazia a terceira e última botellha vazia de Estevet. A noite chegara ao fim.

Paga a conta, saíram todos abraçados, não por amarem e terem carinho uns pelos outros, e sim para se equilibrarem melhor pela ruela estreita.

O grupo decidiu encerrar a noite com chave de ouro. Sacar uma foto de todos, perpetuando a alegria do momento, além de ajudar, na manhã seguinte, a nos lembrar do ocorrido. Porém, uma dúvida pairou no ar. Como faremos para que todos saiam na imagem? Não seria justo que um de nós ficasse atrás da câmera, pois a foto seria o retrato de uma noite incompleta, uma história mal contada. Fernanda Melocotón, de súbito, arrancou a máquina fotográfica das mãos de Luiza Guerra, e gritou Eureka, enquanto pulava e corria em direção à lata de lixo.

Questionamos se a solução seria realmente nos livrarmos da geringonça, e Fernanda Melocotón, após dar uma gargalhada, nos chamou a todos de tolos. Ela pensou em usar o temporizador, estratégia bastante conhecida e muitas vezes não utilizada por se tratar de um artifício que muitas vezes gera dores de cabeça. Apesar do fácil funcionamento e, inclusive, textos explicativos descritos na pequena tela, muitas vezes a paciência do ser humano entra em conflito com a eficiência da máquina. Resolvemos votar, pois somos democráticos.

Os que fossem a favor, que levantassem o braço esquerdo. Luiza Guerra levantou o braço direito. Mirela Alcântra, o pé esquerdo. Polita Ferraz levantou os 'dreads'. Maria Magdalena ascendia aos céus. E Fernanda Melocotón, alheia a tudo, terminava de preparar o temporizador e berrava 'Às suas posições, vai disparar, vai disparar!' Primeiramente, a maioria de nós se escondeu, por pensar se tratar de alguém querendo atirar na gente. Mas, rapidamente, percebemos o mal-entendido e nos colocamos em frente à câmera. E ali permanecemos, por segundos, minutos, horas, dias, meses, anos. E nada. E nada.

Realmente. Temporizador é igual apêndice. Não serve para nada, só para dar trabalho. Desolados, saímos de nossa pose estilo 'As Panteras' e andamos em direção à máquina, quando, de repente, um clarão nos cegou a todos. Corremos e gritamos, mas não havia o que fazer. Fomos pegos.

The End

E essa foi nossa noite de ontem. Hoje o dia foi calmo, tranquilo, sem nada que mereça ser postado. Gostaram? Comentem, espalhem, recomendem.

Estamos bem, amamos vocês.

Beijo especial do Nando para minha dupla musical favorita, Diego Moraes e Taïs Reganelli. Amo vocês, do fundo do meu coração.

Nando (e Mi, fazendo plantão, mas já já ela volta)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Mas heim? (12/11/10)

Sexta. Viernes. Divendres. Friday. Sei lá. Resolvemos sair, pois foi o último dia de curso da Lu. De agora em diante, ela é oficialmente uma turista. E onde vamos comemorar? Onde? Onde? Na El Xampanyet. Sim, saímos para beber Champagne. Chique? Nada. O lugar é lotado, a garrafa do espumante é barata (8,00 euros) e vale mais a pena que comprar uma 'copa' (1,90 euros). Fomos eu, Mi e Lu, e depois chegaram Fernanda e Pauli. Vários tapas e 3 botillas depois, o papo corria solto. Muita risada, muita 'buesta' sendo falada. Não tenho condições de postar mais nada, mas amanhã colocarei várias fotos da noitada. Por enquanto, fica um vídeo que ilustra o aperto do 'boteco-chique'.


E fica um beijão para a Taïs, que está fazendo um pocket na Fnac Morumbi. Queríamos estar aí. Quer dizer... Melhor que você fizesse um pocket aqui!

Estamos bem (beudos - ic!) e amamos vocês.

Besos borbulhantes

Nando (e Mi, preparando o café para diminuir a ressacada)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Que dia! E que post! (11/11/10)

Não sei nem como começar este post. Ontem aconteceram tantas surpresas, tantas coisas boas, que não sei se junto tudo isso no mesmo texto ou se divido em partes. Bom, como eu gosto de textões e não de textículos - hã? - decidi escrever tudo de uma vez. Então, vamos lá! Paciência e coragem!

O dia começou bem. Conversamos com minha mãe, com nosso afilhado e com minha irmã. Eu tinha duas entrevistas agendadas para o dia (trabalhos como freelancer). Recebi uma mensagem cancelando a segunda entrevista, mas tudo bem, ainda havia uma, a mais importante. Me arrumei, coloquei minha melhor camisa, me enchi de casacos pra enfrentar o frio, um pouco de desodorante, escovei os dentes e 'bora' pro metro. Passando pelo Arco, um músico brasileiro cantando Bossa Nova com uma bandeira brasileira enrolada nas pernas. Bom cantor.

Segui pela L1 até La Sagrera, onde baldiei para a L5, azul, em direção ao Hospital das Clínicas, meu destino. Desci na estação, busquei as escadas e em pouco tempo lá estava eu. Onde? Sei lá. Sabia que deveria ir para o norte, em direção à Diagonal. Mas não havia sinalização nem nada. Foi aí que me orientei, veja só você, pelo sol! Eram 15h, e o sol estava já bastante baixo. Lembrei-me da 'rosa-dos-ventos', fixei o sol à oeste e fui em direção ao norte. E deu certo. Encontrei a Diagonal, em toda sua plenitude e em meio ao seu tráfego confuso e cheio. Atravessei a avenida e entrei no Café Kilimanjaro, ponto de encontro escolhido por Patrícia.

Ao entrar, percebi que seria um problema. O café estava bem cheio, e com muita gente fumando. Patrícia havia me dito que levaria seu filhinho de 4 meses ao encontro. Mesmo assim, escolhi a primeira mesa vaga e pedi uma água com gás. A água chegou e, segundos depois, chegou Patrícia. Nos cumprimentamos e ela comentou a respeito da fumaça. Fomos para as mesas de fora. Desta vez, o vento nos fez mudar de ideia. Virei a garrafa d´água, paguei e saímos para uma rua paralela, mais ao sul, onde havia um restaurante bem aconchegante. Durante o trajeto, conversamos um pouco.

Vou pular os detalhes, porque tenho muito ainda a ser dito, mas o resumo é que consegui pegar meu primeiro trabalho. Sim, sim, eba! Patrícia, carioca, ou melhor, já é cidadã do mundo, é uma ótima pessoa, e o filho é a coisa mais linda, com olhos azuis que me lembraram os da Marcelinha. Trocamos figurinha por muito tempo, mas muito tempo mesmo! Ela parece ter uma vida movimentada e muito empolgante, com um bocado de países visitados e morados, e muitas línguas ouvidas e faladas. Pela primeira vez durante todo esse meu tempo de Barcelona, senti alívio. Vi uma luz no fim do túnel. Ufa.

Acertamos tudo, saímos do restaurante, nos despedimos. Eu segui em direção leste, para o Passeio de São João. Andei bastante até encontrar a tal avenida e descer suas largas calçadas. Tanto cansaço me fez pegar, pela primeira vez, uma bicicleta. Sim, como já havia comentado, a bicicleta aqui é um meio de transporte. Algumas avenidas possuem ciclovia, e mesmo nas que ainda não se adaptaram, você pode andar na faixa da direita que ninguém te enche o saco com buzinadas. Passei o cartão emprestado da Fernanda, retirei a bicicleta 25 e lá fui eu.

Agora, a bicicleta daqui é diferente. Ao menos os modelos da Bicing, empresa de aluguel de bicicleta que possui estacionamentos por toda Barcelona. Por toda Barcelona mesmo! Cliquem aqui e vejam o mapa! Cada um desses pontos verdes possuem um estacionamento onde você pode pegar ou deixar a bicicleta. Os pontos vermelhos são apenas para deixar a bici alugada. Você paga um valor de quase 40 euros e, por um ano, pode utilizar por 30 minutos as bicicletas. Passando este horário, paga-se uma taxa. Mas geralmente não é preciso mais de 30 minutos para ir de um ponto ao outro. E mesmo assim, você pode ir, devolver a bicicleta no caminho, aguardar uns 10 minutos (tempo mínimo entre devolução e nova retirada), retirar outra bicicleta e seguir viagem.

Bom, tudo isso para dizer que a bicicleta da Bicing tem a roda dianteira menor. Pensei que não faria diferença na hora de montá-la, mas faz. E muita. Quando comecei a pedalar, eu parecia um retardado que não conseguia firmar o guidão em linha reta. Ficava tremendo pra esquerda e pra direita, repetidamente, enquanto desviava dos transeuntes, carrinhos de bebês e postes. E a bicicleta possui um farol que fica sempre ligado. A luz LED da minha bicicleta ficava passeando pelas pessoas na minha frente, pra esquerda e pra direita. Parecia até show de rock. Aliás, show de rock retardado. Eu imaginava as pessoas me olhando, balançando a cabeça e pensando em catalão 'lá vai o retardado de bicicletinha'. Mas enfim, sobrevivi e cheguei até o Arco. Encaixei a bicicleta no engate do estacionamento, olhei para o horário, 18h45, resolvi que não daria tempo de passar em casa. Eu tinha um compromisso.

Sim, esta era a surpresa da qual falei no post anterior. Eu precisava encontrar a Mi e a Luiza na L5, estação Collblanc. Refiz o trajeto do começo da minha tarde. Arco na L1, troca pra L5 na Sagrera, e desta vez desci na Dois de Maig, onde encontrei a Mi. Seguimos novamente pela L5 por diversas estações. Descemos na Collblanc e esperamos. Minutos depois, chegou a Lu. Estávamos prontos: vamos ao jogo do Barça!

Antes de irmos ao Camp Nou, resolvemos fazer uma boquinha. O esquenta foi num restaurante de tapas bem interessante, perto do estádio. Entramos, conversamos com a garçonete, Cinthia, que é brasileira (assim como outras 2 dali), e está em Barcelona há pelo menos 6 anos. Pedimos nossos bocadillos e posamos para foto.

Conversamos bastante enquanto rolava o jogo do Real Madrid na televisão. Nos preparamos e saímos para o estádio. Logo na entrada, havia uma barraquinha vendendo alguns itens para a torcida. Enquanto as meninas observavam os produtos, eu me preocupava mais em tirar fotos para alimentar o blog.

Depois, entramos. Quer dizer, passamos do portão porque o estádio ainda estava um pouco longe. Entramos na altura da porta 24, e a nossa era a 72. De qualquer forma, estávamos felizes. Apesar do frio, a Mi não se aguentava!


Mais poses, mais fotos, e decidimos entrar 'no lôjinha', para, talvez, mais poses e mais fotos e algumas compras.

Lá dentro, aproveitamos o calorzinho do lugar e mostramos para a Lu aquela megastore que já havíamos visitado.


Depois de algumas compras - eu trouxe um binóculo dobrável para assistir ao jogo - fomos procurar nossa porta. Subimos uma rampa íngreme, interminável, até acharmos a numeração correta. Ali entramos, procuramos nosso setor e, após mais algumas (várias) escadas, chegamos. As meninas foram ao toalete, e eu resolvi registrar, para variar um pouco, minha primeira impressão ao ver o campo. E, claro está, fiz o mesmo com as meninas.




Pois é. A partida terminou 5 a 1 para o Barça. Mas poderia ter sido um placar ainda mais elástico.


A Mi fez questão de pedir esta foto, lembrando que, no nosso tempo de Palestra, a gente só tinha pipoca pra comer. Agora, a gente ali, no Camp Nou, vendo o Barça golear, com gol até do Messi, e ainda por cima comendo amendoim de chocolate! É muito chique.

Eu. Casual. Só uma palavra na minha mente: BRRRRRRRRRRRR...

E foi isso. Voltamos de metro lotado, conversei com minha filha linda, e dormimos 2h45 da manhã de hoje. Que dia, não é? Agora, bora começar a trabalhar pra poder viver novas aventuras e rechear este blog com fotos, vídeos e mais histórias para vocês.

Estamos bem (e agora melhores ainda), e amamos vocês.

Beijo azul-com-bordô

Nando (e Mi, quase voltando pra casa)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O que será? (09/11/10)

Nada muito de novo não. Como havia comentado ontem, fui buscar minha tradução juramentada e apostilada que nos custou 40 euros (jesus) mas que valerá a pena quando eu estiver no próximo dia 19 de novembro para pedir meu Cartão de Familiar não Comunitário de Cidadão da União - ufa!

De resto, fiz algumas alterações no meu futuro novo blog profissional, comi, andei por aí em busca de cadernos e canetas, comi mais um pouco, voltei pra cá, chequei meus e-mails, comi de novo, lavei o banheiro, tomei banho e estou pronto para dormir.

Amanhã provavelmente não postarei nada, pois temos compromisso. O que será, o que será? Quinta-feira a gente se fala.

Estamos bem, amamos vocês.

Beijos misteriosos

Nando (e Mi fazendo o possível para espantar o frio)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Jura que traduz? (08/11/10)

Está chegando o dia. Em breve terei que ir à Oficina de Extrangeiros, levar minha papelada e conseguir, enfim, minha permissão de permanência e trabalho em Barcelona. Um dos últimos documentos que eu precisava era a tradução juramentada da nossa certidão de casamento. E finalmente encontrei a profissional que faria o trabalho. Seu nome: Cristina Aguilera. Não é a cantora. Acho. Bom.

Levantei cedo, e o dia estava especialmente frio. Um frio frio. Frio gelado mesmo. Foi complicado sair debaixo da coberta, ainda mais ao lado da Mi. Mas a necessidade é prioritária, portanto me arrumei, tomei um café e parti. A casa da Cristina fica, de acordo com o mapa, perto do consulado italiano, passando pela Casa Milá, mais ao norte. Passa a Diagonal, primeira à direita, terceira à esquerda, número 21. Fui a pé para economizar o ticket de metro. Saí de casa até que tarde, pois revisei toda a papelada que eu e Mi separamos no dia anterior. Perdi muito tempo também me encapotando. Sempre voltava ao quarto para adicionar outra peça de roupa. Por volta do meio-dia, já estava na rua.

Fui caminhando tranquilamente pela Princesa, uma vez que o escritório de Cristina funcionaria até 14h. Subi em direção à Praça Jaume e segui pelas vielas em direção à rambla marginal. Foi entre uma ruela e outra que, de súbito, tive um click. Eu havia recebido dois e-mails de tradutores juramentados. O primeiro havia escrito o básico. Valor do serviço, endereço e prazo de entrega. Cristina me respondeu no dia seguinte, apresentando-se de forma simpática, informando tudo o que eu queria. Escolhi ela. Porém, acabara de perceber a confusão. O primeiro me informou que trabalhava até 14h. A Cristina não. Ela poderia me receber de segunda à sexta, das 9h às... 13h.

Desespero. Olhei para o relógio. Eram 12h15. Não vai dar tempo. O caminho é todo subida, e o frio havia congelado minhas articulações, inclusive minha mandíbula, motivo pelo qual não gritei. Resolvi arriscar. Apertei o passo e fui costurando turistas, pedintes, pesquisadores, trabalhadores, todo mundo. Em pouco tempo, precisei abrir o casaco, pois estava suando. Contava as ruas e não só para nos semáforos que, obviamente, sempre estavam fechados para os pedestres. Chegando à Mallorca, rua do consulado italiano, resolvi espiar o horário. Eram 12h36.

Estou perto, mas meu passo não está rendendo tanto. Esquerda, direita, esquerda, direita, vou mentalizando a ordem das pernas cansadas, para não tropeçar no ritmo, como se meu corpo fosse um barco Viking, e as pernas, os remos. Sempre subindo, cheguei e atravessei a larga avenida Diagonal. Segui mentalmente as instruções do mapa, que anotei mas não precisei colar. Virar a primeira à direita, virei, depois a terceira à esquerda, cá estou, subir até o número 21. Nove, onze, treze, e a maldita numeração me assombra de novo. Até que chego ao destino. Toco a campainha, onde está uma plaquinha com o nome de Cristina.

Ela atende. Não, não é a cantora. Uma senhora muito simpática abre a porta, me cumprimenta e aponta a cadeira da sala para que eu me sente. Faço isso. Tento falar meu nome, mas no meio da palavra cuspo minha amígdala esquerda. Rapidamente pego-a, guardo-a no bolso do moletom e consigo, enfim, me apresentar. Abro a mochila, retiro a pasta, abro a pasta, retiro a certidão, que vai para as mãos da tradutora. Ela recolhe o documento e anota meu celular. Nos despedimos e saio. Todo o atendimento não durou dois minutos. Olho para o relógio: 12h49. Volto para a casa cansado, suado, mas com o sentimento de dever cumprido.

Durante a tarde, terminei a estrutura do meu novo blog/portifólio. Tudo pronto. Agora, só falta a cara. Ao anoitecer, encontrei-me com a Mi e fomos, debaixo de muito frio e chuva fina, ao Mercadona. Fizemos as compras da semana, e o item que me chamou mais a atenção estava na seção de carnes. Ali estava ele, embalado em plástico duro e 100% transparente, rosado, com suas reentrâncias tortuosas, ao preço de 1 euro o par, um lindo e aparentemente fresquíssimo cérebro de porco. Sim, caro leitor. Um cérebro de porco, de tamanho pouco menor que um punho fechado, reluzente e molhado. Não tenho coragem. Se bem que, poxa, 1 euro... O par! Vamos, ver. Depende muito da receita que eu achar.

E é isso. Amanhã sigo novamente ao encontro de Aguilera - não a cantora, a tradutora - para recolher o documento traduzido, e preparar tudo para o fatídico dia 19, quando tudo haverá de dar certo, para o azar de vocês, que, tenho certeza, adoram quando eu me ferro, o que sempre acaba valendo algumas risadas. Desta vez não, violão. Putz! Preciso lembrar de tirar a amígdala do bolso do moletom.

Estamos bem, amamos vocês.

Beijos cerebrais (ecat)

Nando (e Mi contando 1 carneirinho, 2 carneirinhos, 3...)

domingo, 7 de novembro de 2010

SábaDomingo (07/11/10)

Sábado é o dia oficial do passeio. Não temos o costume de sair de noite, pois qualquer saída significa gasto de dinheiro. Como não estamos (ainda) podendo, o negócio é bater perna mesmo. Mas temos saúde, somos jovens e estamos dispostos. Portanto, saímos logo após o almoço de casa. Não viramos à direita para pegar a Princesa. Ao invés disso, viramos à esquerda e fomos pelo mesmo caminho que fiz rumo à Biblioteca (ver 2 posts atrás). Quando fui mostrar a igreja que descobri por ali, no meio de uma praça, nos deparamos com um casamento.

Apesar da vergonha, entramos na igreja e vimos o fim da cerimônia, justamente a parte do beijo dos noivos. Havia um caminho desenhado por um tapete vermelho, rodeado por velas, que levou a noiva ao altar. Eram poucos e bem vestidos convidados. Na saída, cada qual ganhava seu quinhão de pétalas de rosas para saudar a saída dos pombinhos. Nós ficamos de prontidão na ponta da escadaria, esperando o momento. Não bati a foto das pétalas jogadas, pois queria presenciar o momento. Por mais que queira noticiar tudo o que for possível neste blog, alguns momentos preciso vivenciar com meus próprios olhos, e não através da lente da câmera.

De lá, fomos ao Palácio da Música Catalã. A Mi também ficou embasbacada com o lugar. Descemos uma viela, viramos à esquerda e entramos na Biblioteca. Ouvi quando a Mi sentenciou: "Que bom, agora você achou seu lugar em Barcelona. Aqui tem a sua cara. Quando você sumir, sei onde lhe procurar." É verdade.

De lá, e logo ao lado, fomos ao Mercado Santa Caterina, onde, além das barracas de frutas, legumes, carnes, queijos, comida pronta e flores em geral, encontra-se um museu de escavações de muralhas romanas. Mais uma vez, a Mi ficou animada. Nem tanto com a muralha datada do ano 10 dc, e sim com a incrível seleção de tomates que encontramos em uma das tendas. Tinha tomate de tudo quanto é tipo e para todos os gostos. Minha sogrinha iria se contorcer de emoção, tenho certeza. Ao lado, no mesmo stand, frutas variadas e coloridas. Inclusive todos os tipos de berrys (morango, franboesa, mirtilo, amora) e cerejas vermelhas e brilhantes. Vou me acabar nas cerejas este ano. Ao sairmos do mercado, saquei uma foto da construção.

Depois disso, fomos em direção à Rambla. A Mi não sabia o que faríamos ou aonde iríamos, pois pedi para ser o guia do dia. Disse apenas que ela adoraria o passeio. Em pouco tempo alcançamos uma Rambla marginal, ao lado da principal, que estava lotada de turistas e artistas de rua. Lá, visitamos uma loja da H&M - que a Mi adora -, percorremos os 3 andares do lugar e nos deliciamos principalmente com as roupas infantis masculinas. Pensamos muito no nosso sobrinho-barra-afilhado, Rodrigão. Body com gravata tradicional ou borboleta, pijama do Superhomem, conjunto do Snoopy e vários outros temas. Felizmente, ou infelizmente, não temos dinheiro. Mas foi difícil segurar a 'dinda', que babava a cada nova descoberta no setor.

De lá, subimos para algumas barraquinhas de madeira com artistas da região. Depois almoçamos. Sim, no McDonalds, claro. Após o lanche e com nossa energia renovada, fomos para a Rambla principal. Subimos em direção à Praça Catalunha, e entramos na Fnac. Lá, retiramos os ingressos que compramos online para um evento sobre o qual falarei apenas no post de, provavelmente, quinta-feira próxima. Portanto, aguardem. Será imperdível!

Depois disso tudo, e cansados, resolvemos voltar para casa. Mas o caminho nos reservava mais algumas surpresas. Fomos por uma ruela que eu sabia ser muito importante, particularmente. Nesta rua antiga, encontramos o restaurante Els 4 Gats. Simplesmente o restaurante preferido de Picasso. Lá ele fez sua primeira exposição (1899), além de frequentar reuniões de intelectuais e artistas do velho mundo. Desde que aqui estamos, eu insistia para visitarmos o local. Mas, por estar bem no meio da Cidade Velha, era difícil achar este lugarzinho aconchegante e elegante. Apenas observei o ambiente interno, e pude perceber que, lá dentro, aparentemente, o tempo parou.

Depois das fotos no Els 4 Gats, seguimos adiante. Ao chegarmos na Avenida Laietana, isto é, na metade do caminho, vimos muitos camburões da polícia de Barcelona. Na avenida, vários policiais, alguns correndo de lá pra cá e de cá pra lá. Outros, seguindo em direção à Praça Jaume, onde, normalmente, pegamos o metro para a L4 - amarela. Como bom brasileiro, ao ver a muvuca instaurada logo em frente, fui atrás de informações. Novamente liguei minha câmera e andei em direção ao que parecia ser uma carreata. E era isso mesmo.

Um grupo político (de esquerda) estava manifestando desagrado em relação à visita do Papa Bento XVI neste domingo, dia 07, que consagraria a Sagrada Família, tornando-se, esta, basílica. Gritando palavras de ordem em catalão, o pequeno grupo marchava alguns metros e parava. Depois, marchava mais um pouco, e parava, e por aí seguia. Placas, bandeiras e cartazes erguidos, folhetos e impressos jogados no chão. Fotografei dois.

Não quero, neste blog, começar um debate religioso. Não pretendo dizer o que eu acho disso tudo, a não ser que alguém me pergunte. De qualquer forma, achei importante registrar, em fotos e vídeo, este momento. Provavelmente, depois de algum tempo, não nos lembraremos do acontecido. Mas esse tipo de evento temporal não deixa de ser interessante, mesmo quando não tomamos partido dos fatos.



Resolvemos, então, ir para casa. O dia estava acabando, o sol já não havia, o calor do asfalto se dissipava rapidamente. O vento corria as ruelas da Cidade Velha, mandando a turistaiada voltar para seus quartos de hotel. Mas, quando eu e Mi conversamos sobre o que gostaríamos de fazer no dia seguinte, domingo, decidimos agir. O Papa passaria perto de casa às 9h da manhã, e resolvemos não ir ao desfile, por dois motivos.

Primeiro, acordar cedo num domingo pra ver o Papa passando no Papa-móvel durante uns 3 segundos, e ainda no local onde haveria, segundo informações, uma manifestação (beijaço) de gays e lésbicas, não é um programa que nos deixa super entusiasmados a ponto de encarar tudo isso. Descartamos. Em segundo lugar, aqui em Barcelona, a entrada aos museus (a maioria) é gratuita todo primeiro domingo do mês. E dia 7 seria o primeiro domingo de novembro. Eu e a Mi estávamos doidos para visitar o Museu Picasso, que fica a poucos metros de casa, mas nunca entramos por conta do valor do ingresso. Fora isso, o museu está recebendo uma exposição de Degas, o 'pintor das bailarinas'. Olha o cartaz.

Portanto, decidimos ir ao museu. Deixa o Papa e o beijaço pra lá. Bom, então, fomos naquele instante à recepção do museu, pedir informações sobre abertura e fechamento do local aos domingos. Ouvimos que as portas são abertas às 10h da manhã. Geralmente, forma-se uma fila gigante em frente ao museu, coincidentemente aos domingos, e principalmente quanto este é o primeiro do mês corrente. Por que será? (Em tempo: hoje, domingo, fomos conferir se realmente os turistas prefeririam visitar Picasso ao Papa. E olha a fila.)


Aí, descobrimos uma coisa muito interessante. O preço para entrar no museu Picasso é de 9 euros. Vale. Porém, existe a opção de compra do carné Picasso, que é um cartão que possibilita a entrada para o museu e exposições, durante um ano a partir da compra. E qual o preço do carné? 10 euros. Poxa, pelo custo benefício, já que aqui moramos, resolvemos fazer nosso carné. Assim, podemos ir quando quisermos, passar minutos ou horas lá dentro, vendo pinturas, esculturas e exposições, independente de dia ou hora. Fomos ao guichê, encontramos uma funcionária super simpática e bem humorada (sem ironia), e fizemos nossos carnés. E cada qual é pessoal e intransferível, inclusive com foto do associado. Olha que bonitinho!

Sim, a gente sabe que parece a imagem do Michael Jackson nos carnés, mas o rosto pintado é de uma personagem de alguns quadros de Picasso, chamada Nana, que, em Catalão, significa 'feia pra burro', ou algo do tipo. Depois, com nossos carnés em mãos, fomos para casa jantar. Eu finalmente experimentei meu CaviArt - o caviar falso - e achei uma delícia. Apesar dos protestos de Mi e Fernanda, fiz questão de descrever o gosto da pasta e a sensação de se comer essas bolinhas salgadas com sabor de mar. Mas será que o gosto é o mesmo do caviar convencional?Acho que terei que experimentar o verdadeiro, e em breve.

Então, foi isso. No domingo fomos ao museu Picasso, mas muito mais para tirar onda com o pessoal da fila do que para admirar as coleções. Voltaremos em breve, e farei minhas considerações das obras mais importantes destes dois artistas que lá estão expostas.

Estamos bem, amamos vocês.

Beijos caviáricos

Nando (e Mi, planejando nosso Natal. Aí vem surpresa!)

sábado, 6 de novembro de 2010

Ops (06/11/10)

O dia foi incrível. Tudo de bom. Tiramos fotos, passeamos, gravamos vídeos. Infelizmente, a animação foi tanta que não nos demos conta da hora. Quando percebemos, já passava da 1h00 da madrugada de domingo.

Como amanhã não devemos fazer nenhum passeio mais 'assim', nem mesmo ver o Papa em seu Papa-Móvel, decidi adiar o post de hoje para amanhã. Quer dizer, de ontem para hoje. Isto é, de sábado para domingo. Porque tenho muita coisa para contar, mas o sono é grande. Tanto que até a Mi, que geralmente está acordada, já está dormindo.

Então, nos vemos amanhã. Quer dizer, hoje. Isto é, domingo.

Estamos bem, amamos vocês.

Beijos adiados

Nando (e Mi, por incrível que pareça, dormindo)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ler, ler e ler (05/11/10)

Chega de acordar tarde, ficar na frente do computador esperando e-mails ou oportunidades de emprego. É preciso saber dosar tudo isso para não cair na rotina e, depois, no desespero. É preciso aproveitar sempre que possível. Foi isso que programei para o meu dia. Aproveitar. Então, depois de acordar, conversei com a Mi. Batemos um papo sobre nosso dia, nosso fim de semana, essas coisas. Depois, fizemos um almoço reforçado com (hmmmm!) feijão preto, linguiça e arroz. A Mi preparou este almoço delicioso, regado a suco de manga e maçã. Estava tudo muito bom!

Com a energia a toda, resolvi mandar alguns currículos. Um dos empregadores me retornou, a respeito de trabalhos como freelancer. Foi muito bacana ter uma resposta, pois geralmente isso não acontece. Já recebi, é claro, mensagens de pessoas que agradeciam o envio do currículo, mas que meu perfil não se encaixava no emprego proposto. O que mais acontece, infelizmente, é de não haver resposta alguma. Isso é uma pena. Todos que anunciam uma vaga em empresa deveriam saber da responsabilidade de encher alguém de esperança, principalmente quando diz respeito a trabalho, que é primordial para os milhares de desempregados que passam seus dias enviando currículos e torcendo por algum retorno. Como eu. Enfim.

Depois disso, saí. Andei por ruas que ainda não havia percorrido, e isso em Barcelona é sempre uma delícia. A gente nunca sabe o que vamos encontrar escondido por aí. Aliás, falando em 'nunca sabe', olha o que encontrei. Tive que tirar uma foto, para mostrar para o meu cunhado, Carlos Kassab, que tem gente da família dele por aqui!

Bom, se não é da família, é quase, porque a diferença entre Kassab e Kalsaba é mínima. Aliás, acredito que Kalsaba é Kassab em catalão. Estou averiguando. Continuando o passeio, há alguns metros dali, me deparei com outro monumento arquitetônico inédito. O Palácio da Música Catalã. Um prédio lindo - por fora e por dentro. Por motivos óbvios, só pude observar a parte externa. As fotos falam por si só.

Incrível. Incrível. Vários turistas tiravam fotos, todos embasbacados com esta construção que, do nada, aparece entre ruas estreitas e prédios residenciais. Este Palácio foi inaugurado em 9 de fevereiro de 1908, e é uma sala de concertos única. Mal posso esperar para conhecer o interior.

Depois das fotos, fui para meu verdadeiro destino. A Biblioteca Pública Francesca Bonnemaison. Como eu já li todos os livros que trouxe (dois) e preciso treinar meu castelhano - eu até tentei ler um livro emprestado pela Fernanda, de Paulo Coelho. Mas não consegui. Me perdoem os que gostam, mas para mim, ele é um chato -, resolvi ficar sócio desta Biblioteca. Na verdade, você faz um 'carné', que é válido em toda e qualquer Biblioteca de Barcelona. E não são poucas. Além disso, ganha regalias como descontos em eventos culturais, museus, cinemas etc. Descendo a rua em frente ao Palau, virei à direita e lá estava ela.

Com passaporte e empadronamento em mãos, me apresentei à mesa de uma simpática funcionária. Disse o que queria, ela pediu os documentos, e em minutos me entregou o cartão pronto. Adoro Bibliotecas. Quando comecei a trabalhar em Campinas, tinha o cartão e visitava regularmente a Biblioteca da cidade, ao lado da Prefeitura. Passeei pelos corredores do prédio, procurei livros, assuntos, vi muita coisa interessante. O que mais me chamou a atenção foi uma pequena prateleira com algumas obras clássicas em audio-book. Escolhi dois livros. 'Canción de Navidad', de Charles Dickens, ilustrado por William Geldart, e a biografia 'Dickens', de J. B. Priestley. São livros finos e (espero) de fácil leitura. Mal posso esperar para terminá-los e voltar à Biblioteca.

Agora, jantar e caminha! Amanhã é sábado, e promete ser um dia ótimo pra gente.

Estamos bem e amamos vocês.

Beijos literários

Nando (e Mi, preparando um café bem quentinho)