terça-feira, 19 de outubro de 2010

Errar és humà (19/10/10)

Hoje a história é (mais ou menos) curta.

Antes de ir à Oficina de Extrangeiros pedir minha tarjeta de familiar blá blá blá, precisava fazer uma cita previa. Todo o processo é automático e online, através de site que nos foi informado. Durante todas as etapas do agendamento, aparecia uma observação importante. Guarde bem o dia e a hora de sua cita. Guarde bem, dia e hora. Dia e hora. Dia. Hora. Vale, foi o que fiz. Pedi inclusive a confirmação via e-mail, e no papel que recebi ontem com o mapa do local para onde deveria ir escrevi aquilo que não poderia esquecer. Dia e hora. Dia e hora. O dia, dezenove. A hora, dez para as dez.

Hoje levantamos bem cedo e fomos. Metro, L1, Navas. Saímos do metro. Eu, como ainda não sei direito a pronúncia das ruas daqui, substituo as palavras por objetos ou pessoas ou seja lá o que for em português. Portanto, havia decorado. Sai do metro da Nave, segue na rua Paciência (Palència), desce a primeira à direita, na Biscate (Biscaia) e vira a primeira à esquerda, na Mércia (Múrcia), número 46. Bem, não importa o número, porque é só ir onde tem fila.

Lá chegamos, entrei triunfante, dizendo 'Tenho cita previa, tenho cita previa', e, assim, não peguei a fila que se estendia na calçada. Ao entrar, percebi que havia de enfrentar, sim, outra fila. Porque peguei o número L0149, e estavam atendendo o L0032. Portanto, cita previa uma ova! De qualquer forma, enfrentamos o bicho. Das 9h20 às 9h55, vimos os números voando na tela. Eram mais de 60 mesas atendendo aquele mundaréu de gente. Fomos chamados e fomos, até a mesa 46,

Uma mulher de óculos fundos, loira, cabelo tigela, nos atendeu. Disse minha solicitação. Ela perguntou se tínhamos cita previa. Disse que sim e mostrei-lhe o número do processo, além do passaporte para conferência do nome. 'Pronto - pensei -, agora consegui. Finalmente consegui. Viemos ao lugar certo, trouxe os documentos certos, agora basta'... 'Senhor...' - disse ela. E eu, já meio broxa, forcei o sorriso e disse um pois não entre dentes cerrados. Ela não estava achando minha cita no sistema. 'Ô minha senhora, olha bem aí que eu me lembro bem, marquei até no papel. Dia e hora, dia e hora. Dia 19 - Mi, hoje é dezenove, né? -, 9h50 da manhã!' Ela foi à mesa ao lado, pediu para a amiga acessar o sistema. Comecei a suar frio. O que poderia ter acontecido. Cadê minha cita? Cadê? Foi quando veio a revelação...

A outra atendente disse para a colega, e eu ouvi. Li nos lábios da moça. A boca, primeiro, fez biquinho. 'On'. Depois, entreabriu a boca sem mostrar os dentes. 'Ce'. Merda... Olhei tanto o dia, tanto a hora... E não vi a porcaria do mês. Mês onze. Novembro!!! Minha cita é para dia 19 de novembro, às 9h50 do décimo nono dia de novembro! Minha cara caiu, senti que era a pessoa mais estúpida do mundo. Ao menos, dentro daquela sala, que, no ato, representava o mundo.

Triste, triste. Mas, em catalão, errar és humà. Mesmo assim, ainda estou me sentindo como um humà bem cabeçón.

De qualquer forma, aproveitamos a viagem e voltamos à famosa rua Balmes, onde a famosa Mi tirou o famoso NIE. Eu não havia comentado com vocês, mas o NIE dela saiu como Marela. Marela Cristina Guizzo. Para não entrar em detalhes sobre toda a novela que se seguiu, vou narrar como jogo de futebol televisionado.

Cheamos. Falamos com o guarda. Ele mandou entrar na fila (ah vá, é mesmo?). Esperamos. Esperamos. Entramos. Falamos com a recepcionista - que, por sinal, estava afônica. Quem, em sã consciência, colocaria uma afônica para atender um monte de gente extrangeira? - sobre o erro, e ela perguntou por que não vimos o erro no dia. Fiquei puto. A Mi ficou puta. Pegamos a senha da afônica, enquanto ela dizia que teríamos que trazer todos os documentos de novo, e blá blá blá. Sentamos. Choramos um pouquinho (por dentro). Rimos (por fora). Aguardamos. A Mi ameaçou brigar com o cara se ele falasse algo. Criamos um plano. Ela foi chamada. Fui para porta para, na necessidade, segurar o guarda quando fosse chamado para tirar a italiana maluca que pulava na mesa de atendimento. A Mi apareceu do meu lado. Disse que o cara pegou o papel, pediu o passaporte, disse 'Ahn', acessou o sistema, mudou de A para I, imprimiu novo papel e pronto. Fim do ato.

Aí, voltamos para casa para lamentar um pouco e comemorar outro tanto.

Ai ai. Amanhã, mais papelada, mais currículos, mais histórias.

Estamos bem e amamos muito vocês.

Besos

Nando gripadaço (e Mi no décimo quinto sono.)

Um comentário:

  1. Oi meu querido....mas que coisa hein? Sacanagem....deixa estar.
    Só de vocês estarem aí,já deu certo!!!
    Agora vamos ficar aqui na torcida por um emprego!!
    Se cuida com esse resfriado....
    Milhões de beijos pra vocês.

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