Preparem-se. Este vai ser um megapost. Para não cansar, vou dividi-lo em 2 partes.
PARTE I - Nossa NIEvela
Cedo. Mas cedo bem cedo. Não sei que horas, de tão cedo. Sei apenas a hora em que chegamos, novamente e pela quinta vez à Balmes 192, e mesmo assim, não é certo. Faltando vinte minutos para as nove horas da manhã. Manhã esta que parecia mais fria e molhada que nunca. Por incrível que pareça, a fila estava maior que a enfrentada ontem. Mas batemos o pé e lá ficamos e ficaríamos o tempo que fosse preciso. Logo após nossa chegada, uma moça de seus vinte e muitos anos e óculos de aros grossos postou-se atrás de nós. Há alguns metros de nós, percebemos um grupo de uns 5 rapazes franceses conversando animadamente com um senhor, também francês. A moça atrás de nós também ouviu o grupo e desavergonhada, foi lá conversar com eles. Ela também era francesa. E assim, enquanto o papo corria solto, percebemos que aqui também tem fura-fila. Para nosso contentamento, a fila andou tão rapidamente que precisamente às 9h06 retiramos nosso ticket da máquina automática de senhas.
Nosso número era o A0085. Fomos até a área de espera da sala, onde duas cadeiras vagas nos aguardavam, logo de frente para a tela indicativa de senhas chamadas. Nos sentamos e vimos o número que estava sendo atendido. A0012. Ainda bem que estávamos sentados, senão cairíamos para trás. Uma fila sentada de 72 pessoas até nosso chamado. Menos mal que encontramos dois lugares vazios e juntos. A grande maioria preferiu ficar de pé. Alguns sentaram-se na escada de acesso à segunda planta, e estes eram constantemente removidos pelo guardinha do recinto, que saía de seu posto do lado de fora do prédio para levantar o povo do chão. Nas primeiras 3 vezes que ele fez isso - porque quando alguns se levantavam e encontravam outras cadeiras vagas, novos cidadãos europeus chegavam à sala e, cansados e desavisados, ocupavam novamente os degraus da escada com suas respectivas bundas - o achamos bastante ríspido. Mas depois da quarta vez, percebemos que era preciso certo rigor, e uma boa dose de paciência. A Mi, coitada, ficava nervosa pelas pessoas, que dali alguns instantes levariam uma bronca, provavelmente sem entender nada do que seria dito, mas compreendendo o conteúdo da chamada. Além deste fato cíclico, só nos restava aguardar. A Mi pescando em meu ombro. Eu, lendo o jornal 20 minutos.
O atendimento estava rápido até. Eram 4 atendentes, sendo que três chamavam as senhas 'A', e apenas um funcionário atendia os de senha 'B'. Rapidamente vimos serem atendidos cerca de vinte solicitantes. Nos animamos, dentro dopossível entre o sono e o tédio e o frio. Já começamos a fazer planos para depois do atendimento. Mas - e sempre tem 'mas' nessas histórias -, quando percebemos, não vimos mais o único que atendia o pessoal do 'B'. De repente, a mesa 5 começou a chamar as senhas iniciadas com o tal 'B'. Bom, ainda estamos com 2 'As' e 1 'B'. Tranquilo. Mas - ah lá o 'mas' de novo - vimos na tela das senhas a mesa 3 também chamando 'B'. Virada espetacular. Estava 3 a 1 par a turma do 'A', e, de repente, perdíamos por 2 a 1 para o 'B'! Eu me desesperei um pouco, mas era mais cansaço que razão. Mas o fato é que estacionamos no A040, e a coisa não andava. O único que chamava os 'As' era um homem perto dos 50, mas lerdo, mais lerdo que ão sei. Aí o computador dá pau. Aí ele dá a volta na mesa e verifica as conexões. E lá vem o guardinha levantar mais 20 pessoas da escada. E a Mi pescando. E eu lendo o jornal 20 minutos havia quase 1h30.
Como minha sogrinha me disse, eu sou muito dramático. Mas preciso ser, para passar a real emoção do momento ao leitor e, assim, garantir novas visitas. Hoje, por exemplo. Realmente, chegou uma hora que me deu vontade de ir até a recepcionista, ou até mesmo ao guarda nervosinho, e reclamar do parco atendimento. Mas me segurei, em nome da boa conduta e educação dada por papai e mamãe. E, claro, para não ser extraditado. Depois desse estresse rápido, tudo voltou ao normal. O funcionário sumido voltou, as mesas 3 e 5 começaram a chamar os 'As' novamente, e a fila andou. A contagem regressiva mostrava nossa pressa e ansiedade pelo fim da novela. Faltam 5. Faltam 4. E quando falamos juntos 'faltam 2', vimos a tal francesa, aquela 'chienne' fura-fila, passando pela gente para ser atendida. Fulminamos a pessoa com olhares gelados, mas ela não se abateu e se apresentou à mesa. Deixa estar. Portanto, lá pelo meio-dia, quase 3 horas após nossa entrada, fomos atendidos. Durante cerca de 2 minutos. Foram 3 horas para 2 minutos. Que coisa... Bom, recebemos nosso papel amarelo, que deveríamos pagar - 10 euros de taxa - e retirar uma nova senha. A tal senha 'B'. Fomos em busca de um banco para pagarmos a tal taxa. Mas, antes de sairmos, já retiramos a tal senha. Assim passaríamos a perna na francesinha, que certamente retiraria seu número apenas após o pagamento da taxa. A vingança é um prato delicioso.
Descemos a rua, mas naquele banco podia-se pagar a taxa apenas com tarjeta (cartão do banco). Subimos além da Comisaría. No banco da esquerda, nos informaram que era o banco da direita que aceitava pagamento de taxas. No banco da direita, um aviso na porta: aqui não se pagam taxas. Demos a volta no quarteirão, fomos ao banco Popular, e lá fomos atendidos por um simpático homem de óculos fundos. Sim, podemos pagar a taxa lá. Voltamos correndo e nos sentamos. A Mi percebeu que havia perdido sua caneta. Eu refiz o caminho até o banco Popular procurando o objeto. Entrei, falei com o caixa. Ele me mostrou 3 canetas BICs, e eu disse que não era parecida com aquelas. A da Mi era toda azul. Mas não tem problema. Então ele perguntou se queria uma das canetas. Eu aceitei e agradeci. Achei isso muito legal, e bastante discrepante do que encontramos pelas bandas de cá. Planejamos até abrir uma conta nesse banco, so por conta da caneta BIC sem tampa do cara de óculos fundos. VOltei, contei a história, a Mi sorriu e aguardamos. Neste meio tempo, a Mi fez uma nova amiga! É uma italiana que mora na Espanha há alguns anos, e está há cerca de 1 mês em Barcelona. Conversaram em italiano, trocaram e-mail e tudo mais. Me enchi de orgulho!
Depois aguardamos nosso número. B0176. E não é que conseguimos, finalmente o NIE da Mi? Agora ela está 100% legal no país, pode trabalhar e ficar além dos 3 meses normais. O NIE expira em 5 anos, mas creio que não precisaremos renová-lo. Agora, o próximo passo. Segundo informações, a sala dos extrangeiros que não são cidadãos da comunidade europeia - ou seja, 'djô' - era naquele mesmo prédio, mas por outra entrada. No meu caso, o documento chama-se DNI, e é preciso muito mais papéis e tempo para consegui-lo. Fomos até a outra entrada. Saímos doprédio, viramosà direita, e novamente á direita, até um estacionamento. Um outro guardinha, muito mais invocado e nervoso que nosso amigo anterior, indicou o caminho. A despeito dos meus comentários sobre a sala dos solicitantes de NIE, este lugar é, verdadeiramente, o inferno. O lugar, que nem bem sala é, trata-se de um estacionamento. Um quadrado desenhado por muretas e fitas de isolamento separam os extrangeiros dos carros da Comisaría. A senha, impressa, deveria ser retirada na entrada. Ao entrarmos, não havia sequer um painel indicativo de chamada de senhas. Não sei como, mas provavelmente eles chamam o dono da senha no grito.
Não ficamos para ver. Deve haver um jeito mais fácil de tirar o DNI. De qualquer forma, deixemos para amanhã. Mais de uma novela por dia, só a Globo.
INTERVALO
Nos perguntaram a razão de ser sempre eu o escritor das linhas deste blog. Não acho que a Mi escreva mal, nem coisa do tipo. É que escrever, para mim, é terapêutico. Portanto, não ligo para meu egoísmo ao tomar posse dos teclados do netbook todas as noites, pronto para notícias quentes do front - ou não tão quentes assim, dependendo da situação. Porém, se for a vontade dos leitores, eu deixo ela escrever alguma coisa vez por outra. Por favor, deixem sua opinião nos comentários do blog ou no nosso Facebook.
PARTE II - Arte de pedra
Para sua sorte, querido leitor, esta segunda parte envolve mais imagens que textos. Isto porque diz repeito ao nosso passeio do dia: a Catedral de Barcelona. E quando trata-se de reportar uma visita turística nossa, prefiro que seja através de imagens. Afinal de contas, não sou guia turístico para prover as informações corretas, e nosso intuito é mostrar a beleza que encontramos, e não substituir a emoção da visita em si. Então, aí estão as fotos. Aproveitem!
Apesar desta obra arquitetônica ser muito antiga, a tecnologia já invadiu seu interior. Aqui vemos velas eletrônicas movidas a moedas. Coloca uma moedinha e acende-se a lâmpada da vela. Lembrei-me de uma expressão que usei numa canção que fiz em homenagem ao meu avô: "Vela com voltagem".
Este sepulcro acima é de 1058. Por extenso: mil e cinquenta e oito. Inacreditável. E muito bem conservado. Mas não posso dizer o mesmo do cidadão que lá se encontra há 952 anos.
É isso! Belo passeio, não?
Estamos bem. Amamos vocês.
Venham, venham! Onde dormem 2, dormem 50!
Beijos
Nando (e Mi, dormindo, pra variar um pouco!)
Como sempre ,me delicio com as histórias e até me transporto para Barcelona(não precisei nem renovar o passaporte )
ResponderExcluirBeijos e mais beijos pra vocês!!!!!
Queridos, vcs já podem se considerar fazendo parte dos "Cavaleiros Que Dizem Ni!"
ResponderExcluirBeijocas e boas burocracias. Adorei os meninos da vila. hahahahahahah.