Está na hora d´eu me esforçar um pouco mais e contar, no mesmo post, dois dias seguidos. Ontem e hoje. Assim, além do blog ser mais fiel à realidade, não vou precisar ficar queimando o que me resta de folículos capilares em busca de detalhes de lembranças. Comecemos com ontem, dia 07 de outubro.
Acordamos tarde. Ô sina! O despertador funcionou perfeitamente. Dona Mirela lembrou-se do botãozinho 'on-off', acertou o relógio, tudo perfeito. E na hora marcada, o danado tocou. Êêêê! Ficamos tão felizes e satisfeitos que, para comemorar o feito, viramos para o lado e dormimos novamente. Só acordamos de verdade com o berreiro da creche aqui do lado, lá pelas 11h da manhã. Até entender onde estávamos, o que deveríamos fazer, lembrar nossos nomes e essas coisas todas que fazemos todo dia ao acordar, já passava das doze. Sem problemas! Vamos almoçar, tomar um banho, juntar nossas coisas na mochilinha da Mi e sair em busca do NIE da da nossa italiana (ver post anterior). Estudamos nosso guia rápido de metro - Guia Essencial Barcelona, editora Ciranda Cultural. Recomendo! - enquanto almoçamos, escovamos nossos dentes e partimos.
Seguimos para o metro Diagonal, que sai perto da Avenida Diagonal, nosso ponto de partida. Subindo uma pequena parte da Rambla da Catalunya até esta avenida, deveríamos virar à esquerda, e depois a segunda à direita, na Carrer de Balmes, número 192. Fizemos isso. Subimos a Balmes durante 2 quarteirões, e finalmente e rapidamente encontramos os portões do prédio onde o governo disponibiliza o NIE para extrangeiros da comunidade da união. Detalhe: os portões estavam fechados. O horário de atendimento vai das 9h da manhã às 14h, e o relógio marcava pra lá das 4 da tarde... Frustração. Mas, atitude positiva! Amanhã voltaremos! Portanto, segundo nosso mais novo acordo turístico, escolhemos um passeio com a nossa cara: barato. Desceríamos a Rambla da Catalunya até a estátua em homenagem a Colombo. São cerca de 3km batendo perna Rambla abaixo. Não sei se expliquei anteriormente, mas as Ramblas são calçadões, onde turistas, moradores, artistas de rua, batedores de carteira e mendigos se encontram.
Estamos nos aproximando da Plaça de Catalunya. Pessoas aparecem do nada, ora vindas dos metros, ora desembarcando de ônibus de turismo. Já na Plaça, sacamos nossa câmera e tiramos algumas fotos. O que mais me chama a atenção é o número de pombos neste local, e a ausência quase total de cocôs de pombo. Mas estamos longe do nosso objetivo de hoje, portanto seguimos em frente, e descemos La Rambla, provavelmente o principal calçadão daqui. No primeiro trecho, muitos turistas, todos facinados por artistas de rua que se comprimem e se esforçam para fazer... nada. Sim. Nada. São aquelas estátuas humanas. Artistas pintados de dragão, diabo, Marilyn Monroe, bebê, Yoda, todos ali, parados, fazendo nada conjuntamente. Alguns possuem artifícios interessantes. Yoda, por exemplo, parece flutuar. Marilyn joga beijos para a plateia, enquanto sua saia voa ao vento. Vimos também dois artistas trabalhando juntos. Um vestido de índio dourado, o outro de guerreiro medieval negro, e, entre eles, uma cadeira e um capacete viking. Apesar da cena ser historicamente errada, os turistas, principalmente os homens mais velhos - com suas bermudas puxadas, com vontade, acima das barrigas salientes, enquanto o cavalo divide os ovos, e combinando 'perfeitamente' com a camisa estampada -, se estapeiam para ver quem sentará primeiro na tal cadeira, usando o tal capacete. Enquanto isso, as suas distintas e respectivas senhoras disparam flashes de suas câmeras fotográficas, não para registrar o momento, mas para cobrir seus rostos com a máquina, tamanho o vexame. Os dois artistas, depois de tudo isso, solicitam gentilmente uma caixinha. E vou dizer uma coisa. Esse pessoal ganha bem pacas. Bem demais, aliás, para fazer 'nada'.
Do lado direito, de repente, aparece um mercado gigantesco, chamado La Boqueria. Passeamos muito por lá. Vimos desde frutas e sucos de dar água na boca até pedaços de vaca e cabra (ou bode) de virar o estômago. A parte de frutos do mar também impressionou. Lagostas, carangueijos, mariscos de uma variedade incrível. Um dia voltaremos com mais tempo e mais cedo, e então descrevo melhor este lugar.
Logo a seguir, uma parte não muito bacana da Rambla. O som diz tudo. Uma mistura de miado de gato com choro de criança invade o ar. É o mesmo som ouvido e odiado na 25 de Março, em São Paulo. São paquistaneses, que andam pra cima e pra baixo, fazendo sons com um negocinho de nada, feito sei lá de quê - pra mim, parece um prepúcio... -, chamando a atenção dos pedestres. Quando anoitece, eles jogam para o alto um brinquedinho que possui hélices de helicóptero e um briho azul. Elas sobem rapidamente e descem rodando, flutuando, sobre nossas cabeças. E lá embaixo, o vendedor 'disso', com o prepúcio na boca, fazendo 'uéééééu, uéééééu'. Irritante. Vamos seguir em frente.
Finalmente, após toda a confusão, o oásis da Rambla. Já estamos perto do mar, e agora, os artistas que vemos nos cantos do calçadão são pintores e desenhistas. Menos turistas e muito mais arte. Alguns pintores são ruins, ou muito estilosos. Mas cerca de meia dúzia são impressionantes. Principalmente um desenhista que trabalha reproduzindo fotos com o uso do grafite - não spray, grafite mesmo. Que trabalho, que dom... O desenho parecia uma foto. Incrível. Saímos um pouco da Rambla para comprar um refresco, e aproveitamos o desvio para visitar o Museu de Cera. Não entramos, porque achamos caro para nosso orçamento apertado. Mas, futuramente, após encontrarmos algum trabalho, voltaremos.
Agora falta pouco. Ao longe, vemos o monumento em homenagem à Colombo. Lindo, alto e solitário. Lá está Colombo, apontando a direção da Nova Terra. É impossível não fazer, na cabeça, uma volta às aulas de história, lembrar tudo o que nos foi ensinado, e perceber que você está ali, onde tudo começou. Tive vontade de estudar mais a fundo esta parte das descobertas marítimas, das viagens, das dificuldades.
Descobrimos que a Rambla não termina no monumento. Ela segue um pouco além, até um zona portuária. Centenas ou milhares de barcos ali, estacionados de um lado da passarela, enquanto do outro lado gaivotas disputam seu pedaço dos pães e outros alimentos atirados pelos turistas. No fim dessa passarela de madeira, um centro de compras. Inclusive, segundo história que ouvi aqui, este é o único estabelecimento comercial que funciona de domingo. Aqui em Barcelona, as lojas de centros comerciais não podem abrir aos domingos, e esse shopping não respeitou a regra. Indagado por autoridades sobre isso, o administrador do shopping respondeu: 'Esta lei é de Barcelona. Meu shopping está sobre o Mar Mediterrâneo, que não pertence à Barcelona. Portanto, abriremos aos domingos.' História real? Não sei, mas é legal.
Passeamos no shopping, o Maremagnum, vimos algumas lojas muito boas e baratas. Saímos por volta das 7h da noite, mas desta vez pegamos o Metro. Descer 3km de Rambla, todo santo ajuda. Mas subir tudo isso de volta? Só o Metro ajuda!
---------------------------------------------------------------------------------------------
Descansados da aventura de ontem, hoje conseguimos levantar um pouco mais cedo. Lá pelas 10h30. Nos arrumamos rapidamente e refizemos o caminho de ontem até o endereço para solicitação do NIE da Mi. Lá estávamos faltando vinte minutos para 13h. Portanto dentro do horário de atendimento ao público. Os portões abertos, que maravilha. Agora vai! Fomos à mesa da recepcionista, uma senhora muito simpática (não) e disposta a ajudar (não!) quem precisasse de informação. Mostramos a papelada. Ela falou em castelhano uma porção de coisas, e nos deu 2 formulários para preenchimento. A única coisa que entendemos do falatório foi "Já fechamos." Sim. Parece que eles distribuem senhas em número limitado. Portanto, fomos novamente em vão. Temos é que chegar cedo, bem cedo, com o formulário preenchido, e torcer pra ter senha pra gente. Que legal! De qualquer forma, não vamos desanimar, minha gente! Quem sai na chuva...? Pois é. Tiramos fotocópias do cv da Mi e fomos ao centro comercial Diagonal Mar para distribui-los. Rodamos o lugar, achamos lojas bacanas que procuravam funcionários, deixamos o cv da Mi, almoçamos, deixamos mais alguns, visitamos algumas lojas. Inclusive comprei um Rubik Cube em miniatura, e já comecei a brincar com ele enquanto fuçávamos vitrines de lojas e quiosques. Andamos muito.
Resolvemos sair de lá em direção ao mar. Havia um mirante perto do centro, mas um pouco longe da praia. Fomos lá e vimos, ao longe, o mediterrâneo, com uma incrível divisão de cores. Perto do continente, um verde claro, e, dividido por barreira invisível aos olhos, o resto da imensidão do mar azul escuro. Deixamos nossos corpos descansarem um pouco em frente à maresia, curtindo aquela vista privilegiada. Voltamos até a entrada do Diagonal Mar e pegamos um TRAM até nossa casa.
Descemos num ponto logo ao lado de um parc que é nosso vizinho, mas vizinho mesmo, e mesmo assim nunca visitamos. Pois, devido ao acordo, fomos 'forçados' a conhecê-lo. É o Parc de la Ciutadella. Várias construções antigas e histórias interessantes cercam este lugar, mas como não quero resumir tudo num post só, hoje vou dar mais atenção à Font Monumental. Bom, o nome diz tudo, e as fotos contam o resto, e provam que não há nome melhor para esta obra de arte.
O mamute foi montado em tamanho natural, em 1907. Demais!
Aí, cansados pacas, voltamos para casa, para fazermos planos. Não sobre nossas vidas, mas sobre o amanhã. Porque aqui, em Barcelona, é assim. O próximo passo é sempre o amanhã.
Estamos bem. Bem cansados e bem bem também. Amamos vocês.
Façam um acordo com alguma companhia aérea e comprem todos juntos as passagens. O desconto vai valer a viagem. Senão, aluguem uma van e pé na estrada!
Beijos
Nando (e Mi lendo. Ela fica linda lendo...)
Eu acho que com todo esse material ,muito em breve você vai ter um livrro.........
ResponderExcluirEstou adorando as histórias........
Muitos beijos para os dois
Tanbém fiquei cansada só em ler........
ResponderExcluirMas tá valendo a pena, estou conhecendo Barcelona pelos de vcs!